São Paulo, segunda-feira, 26 de outubro de 2009

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Cachorro-quente dos EUA ganha sabor mexicano

Por JOHN T. EDGE
TUCSON, Arizona - "O problema dos cachorros-quentes americanos é que são americanos", disse Tania Murillo, enquanto anotava um pedido de tortilhas na Alejandro's Tortilla Factory.
"Um cachorro-quente com ketchup e mostarda é tão monótono", disse Murillo. "Não é suficientemente colorido. É preciso deixá-lo colorido e colocar muita coisa em cima. Os melhores hot dogs são os de Sonora [Estado mexicano imediatamente ao sul dos EUA]. Todo o mundo sabe disso."
Em Tucson, nos EUA, mais de cem empresas de carrinhos de cachorro-quente, conhecidos como "hotdogueros", vendem o lanche ao estilo de Sonora, envolto em bacon, grelhado até a salsicha e o bacon se fundirem, acompanhado de condimentos e coberturas e enfiado em pães cortados ao meio.
Muitos, como a Ruiz Hot-Dogs, operam carrinhos cujos cardápios contêm apenas dois itens: hot dogs de Sonora e refrigerantes. Parados em estacionamentos com chão de terra ou cascalho, sob abrigos improvisados ou debaixo de árvores, esses vendedores ambulantes servem fast food a trabalhadores diaristas, artesãos e policiais, os fregueses típicos dos carrinhos de cachorro-quente tradicionais vistos em qualquer cidade americana.
Outros que levam adiante o estilo de Sonora, como o El Guero Canelo, evoluíram, passando de carrinhos de cachorro-quente para restaurantes.
Numa tarde recente de domingo, uma banda de mariachi tocava enquanto uma multidão saída da igreja, metade anglo-saxônica e metade hispânica, lotava o espaço ao ar livre do El Guero. Adolescentes passavam de uma mesa para outra. Pais discutiam com seus filhos, querendo que, em lugar de um segundo cachorro-quente, estes fizessem outros pedidos no bar de salsa ao fundo do restaurante. Mas 1 em cada 3 mesas devorava hot dogs ao estilo de Sonora.
Há pelo menos 40 anos as empresas de cachorro-quente da região de fronteira dos EUA com o México, em Tucson e outras cidades, vêm modificando o hot dog original, acrescentando a ele uma capa de bacon e acompanhamentos de feijão, tomates e cebolas, tudo temperado com maionese, mostarda e molho verde de salsa.
Essas versões mexicanas do cachorro-quente americano estão presentes em uma dúzia ou mais de cidades americanas, de Chicago a Denver e Los Angeles. Mas é apenas em Tucson que moradores locais, como Tania Murillo, atribuem a proveniência do cachorro-quente ao México.
O cachorro-quente mexicano-americano chegou há relativamente pouco tempo. No Arizona dos anos 1940, os tamales eram conhecidos, pelo menos no inglês coloquial, como hot dogs mexicanos. Na década de 1950, os verdadeiros tamales -feitos de farinha de milho cozida ao vapor e recheados de carne ou queijo- estavam ganhando presença nos EUA, e os cachorros-quentes americanos provavelmente tinham viajado para o sul, chegando a Sonora, Baja Califórnia e outras regiões.
Ainda não se sabe quando os cachorros-quentes envoltos em bacon passaram a ser conhecidos como hot dogs mexicanos. Várias versões vêm da Cidade do México, algumas ligadas à alimentação de multidões em duelos de luta livre nos anos 1950, outras à alimentação de trabalhadores na construção de arranha-céus nessa mesma década. Daniel Contreras, dono do El Guero Canelo, situa a origem na mesma época, mas em seu Estado natal de Sonora, onde um homem que ele conhecia como Don Pancho os vendia na rua.
Como é o caso da maioria dos pratos populares, sua verdadeira origem talvez nunca chegue a ser identificada. Mas, deixando de lado as suposições folclóricas, a resposta pode ser questão de habilidade de vendas.
Em 1953, Oscar Mayer publicou anúncios impressos, tentando convencer os consumidores americanos dos prazeres do cachorro-quente embrulhado em bacon. É possível que os mexicanos, interessados em imitar os hábitos culinários americanos, tenham acreditado em Mayer, embrulhando hot dogs americanos em bacon de produção americana e reivindicando a autoria do resultado.

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