São Paulo, segunda-feira, 27 de junho de 2011

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Investidores estão atrás do novo Facebook

Por CLAIRE CAIN MILLER
Palo Alto, Califórnia
O que aconteceria se você promovesse uma festa de US$ 41 milhões e não viesse ninguém? Uma "start-up" (empresa recém-fundada com histórico curto de operações e caracterizada por uma proposta inovadora) chamada Color conhece essa sensação.
A Color lançou em março seu aplicativo de partilha de fotos para celular -e revelou que levantara US$ 41 milhões de investidores antes de o aplicativo contar com um único usuário sequer. Apesar dos recursos da companhia, o aplicativo foi um fracasso, atraindo poucos usuários e muitas queixas daqueles que de fato o experimentaram.
"Seria sem sentido, mesmo que eu conseguisse entender como funciona", escreveu um resenhista na Apple App Store.
Desde então, a Color tornou-se símbolo de cautela necessária para investidores, empreendedores e analistas receosos de que esteja ocorrendo uma bolha nos investimentos em start-ups. Para eles, o caso da Color mostra que capitalistas de investimentos, desesperados para investir no próximo Facebook ou LinkedIn, estão afundando dinheiro às cegas em start-ups que ainda não demonstraram ser capazes de criar algo útil, muito menos um negócio que será capaz de oferecer retornos decentes sobre os investimentos.
A Color, que afirma estar reformando seu aplicativo, é uma das start-ups que vêm provocando temores quanto a excessos e uma bolha no Vale do Silício. A Melt pretende vender sopas e sanduíches de queijo grelhado que as pessoas pedirão a partir do celular. Ela levantou US$ 15 milhões da Sequoia Capital, que também investiu na Color.
A Airbnb, que ajuda pessoas a alugar quartos em suas casas, está levantando capital de investimentos que podem levá-la a valer US$ 1 bilhão. A Scoopon, uma espécie de Groupon para australianos, levantou US$ 80 milhões; a Juice in the City, uma Groupon para mães, levantou US$ 6 milhões, e a Scvngr, que lançou um Groupon para jogadores de games, levantou US$ 15 milhões. Esses empreendimentos podem se tornar grandes negócios, mas o que preocupa são os preços.
Os investidores revelam que, nos últimos 12 meses, pagaram duas a três vezes mais por suas participações em start-ups como essas. De acordo com a Associação Nacional de Capital de Investimentos, investidores apostaram US$ 5,9 bilhões em start-ups nos três primeiros meses deste ano, um aumento de 14% em relação a um ano antes, mas o número de start-ups em que investiram foi menor em 51 empresas, fato que indica que eles canalizaram mais dinheiro para menos start-ups.
"As histórias de sucesso -Facebook, Zynga e Twitter- estão levando investidores a apostar em ideias rabiscadas sobre um guardanapo, pois ninguém quer ficar de fora do próximo grande sucesso", explicou Eric Lefkofsky, um dos fundadores do Groupon e presidente do Lightbank, um fundo de capitais de investimento sediado em Chicago e com um cofre de US$ 100 milhões.
Duas concorrentes da Color no setor de partilha de fotos, Instagram e PicPlz, começaram respectivamente com US$ 500 mil e US$ 350 mil e equipes de apenas alguns poucos profissionais. E conseguiram lançar produtos de sucesso e atrair usuários.
Enquanto isso, a Color gastou US$ 350 mil apenas para adquirir o endereço color.com na web e outros US$ 75 mil para comprar o colour.com. A empresa ocupa um enorme escritório alugado no centro de Palo Alto, onde 38 profissionais trabalham em um espaço que seria capaz de abrigar 160, em meio a pufes, barracas para tirar sonecas e uma rampa de skate construída à mão.
Bill Nguyen, o sempre sorridente fundador da Color, contratou uma equipe de engenheiros caros, como D.J. Patil, ex-cientista-chefe da LinkedIn. Empreendedor serial, Nguyen, 40, fundou um serviço para receber faxes, e-mail e mensagens de voz chamado Onebox.com, que a Phone.com comprou por US$ 850 milhões, e o serviço de música digital Lala, que a Apple comprou, no ano passado, por US$ 80 milhões. Ele disse que tem levantado mais dinheiro do que precisa, de modo que, se seus produtos fracassarem, terá recursos para continuar em operação por mais tempo do que seus concorrentes.
Mas Nguyen disse que os últimos três meses o levaram a tornar-se mais humilde. "Não há dúvida de que eu gostaria que pudéssemos ter lançado nosso produto, e que milhões de pessoas o tivessem usado, mas isso não aconteceu", disse. "A realidade é que vamos continuar trabalhando em cima do produto e seguir um caminho muito mais tradicional para chegar de A a B."
Quando começou, a Color disse que inauguraria uma nova era de networking social baseado em locais, permitindo que as pessoas compartilhassem fotos feitas com seus celulares com outros usuários Color que estivessem nas proximidades. Mas, embora ela tenha tido sucesso com o produto em grandes eventos, como festivais de música, quem experimentou o produto em outros lugares descobriu que raramente havia alguma coisa a ser vista.
Nguyen disse que a empresa levou as críticas a sério e mapeou novo rumo a seguir. Seus engenheiros estão construindo a nova versão do aplicativo, a ser lançada ainda neste verão americano.
"Cada vez que ocorre uma queda, há empresas que se destacam e viram uma Google da vida, mas essa é a exceção, e não a regra", comentou Mark Suster, diretor-gerente da firma de investimentos GRP Partners. "Para cada história de sucesso, há 250 avaliações realmente falhas de start-ups."

Colaborou com a reportagem Jenna Wortham


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