São Paulo, segunda-feira, 27 de junho de 2011

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DIÁRIO DE XUL

Italianos vão para o vilarejo do fim do mundo

Por ELISABETH MALKIN
XUL, México - Na linguagem dos maias, o nome deste vilarejo significa "o fim". Há muito tempo, era apenas "o fim da estrada". Aqueles que contam histórias dizem que os estrangeiros instalados aqui há quatro anos vieram para esperar o fim do mundo.
Somente isso se sabe ao certo: os pioneiros são italianos, e eles criam gado, produzem queijo e possuem árvores frutíferas em um rancho de cem hectares.
Os recém-chegados vieram aqui, e o que eles acreditam alimentou a especulação apocalíptica através deste pedaço adormecido da península de Yucatán. "Sabemos das fofocas, mas nada sabemos sobre isso", disse o reverendo Yvan González, um padre católico romano. "É um grupo secreto. As pessoas dizem que estão aqui, pois o mundo vai acabar."
Esse lugar é simplesmente a quilômetros de onde o mundo quase acabou na última vez, já que o asteroide Chicxulub caiu aqui há 65 milhões de anos, desastre que os cientistas teorizam que foi a causa da extinção dos dinossauros.
Xul também está no que era o coração da civilização maia. Alguns profetas da Nova Era creditam a previsão do fim do mundo, supostamente no inverno de 2012, aos maias. Estudiosos concordam, porém, que os maias não acreditavam nisso. A data é a última em seu calendário de contagem chamado Long, o fim de um ciclo histórico de exatos 5.125 anos.
Os italianos, no início, foram discretos. Eles contrataram os moradores locais para limpar a terra, plantar árvores e construir. Então, no ano passado, um jornal em Mérida revelou que tinha um furo. Reportagens de primeira página declararam que os italianos vieram para Xul a fim de se protegerem do fim do mundo em 2012. Os repórteres entrevistaram trabalhadores que garantiram que as casas estão ligadas por túneis subterrâneos e protegidas por muros capazes de suportar desastres.
A resposta oficial foi enérgica. Soldados checaram evidências de drogas, funcionários da imigração verificaram os papéis, e o governo fiscalizou os documentos das propriedades. Jornais contrataram helicópteros para voar sobre o lugar.
Depois do rebuliço no ano passado, os italianos trancaram o portão e colocaram placas com os dizeres "propriedade privada".
Um deles se recusou a falar enquanto dirigia. Mais tarde, ele começou a responder perguntas em espanhol fluente, identificando-se como Juan Fearless. Os moradores construíram as grossas paredes das casas para mantê-los frescos, como as cabanas dos maias, disse ele. Como poderíamos ter construído túneis, ele perguntou?
O grupo veio para Xul, disse ele, pois o terreno era barato. A comunidade é um retiro de aposentados. Quebrar as regras da comunidade significa expulsão. Uma psicóloga mexicana oferece orientação espiritual.
"Não", disse Juan, ele não espera que o mundo acabe em 2012. "Mas cientistas esperam mudança no campo magnético da Terra no próximo ano", acrescentou.


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