São Paulo, segunda-feira, 27 de junho de 2011

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Teleguiados pequenos como insetos podem alterar a guerra

Por ELISABETH BUMILLER
e THOM SHANKER

BASE DA FORÇA AÉREA WRIGHT-PATTERSON, Ohio - A três quilômetros do pasto onde os irmãos Wright aprenderam a fazer voar os primeiros aviões e aeroplanos, pesquisadores militares estão trabalhando em outra revolução: encolher os teleguiados de guerra ao tamanho de insetos e pássaros.
O laboratório de voo interno da base é chamado de "microaviário". Os teleguiados em desenvolvimento aqui são desenhados para replicar a mecânica de voo de mariposas, falcões e outros habitantes do mundo natural. "Estamos examinando como se esconder à plena vista", disse Greg Parker, um engenheiro aeroespacial.
Os teleguiados aéreos estão transformando o modo como os EUA combatem. O Pentágono tem cerca de 7.000 desses aparelhos, comparados com menos de 50 há dez anos. Na próxima década, a Força Aérea dos EUA prevê um declínio dos aviões tripulados, mas espera que seu número de teleguiados aéreos "multifuncionais" como o Reaper -os que espionam e também atacam- quase quadruplique, chegando a 536. A Força Aérea já está treinando mais pilotos remotos, 350 somente neste ano, do que pilotos de caças e bombardeiros somados.
"É um mercado em crescimento", disse Ashton B. Carter, o principal comprador de armas do Pentágono. Em 2030, o Pentágono prevê que estará empregando "moscas espiãs" equipadas com sensores e microcâmeras. Peter W. Singer, autor de "Wired for War" [equipados para a guerra], um livro sobre robótica militar, os chama de "insetos com insetos".
O teleguiado já desempenha um papel central. A CIA espionou a residência de Osama bin Laden no Paquistão com vídeos transmitidos de um novo teleguiado invisível com asa de morcego, o RQ-170 Sentinel, antes conhecido como "Fera de Kandahar", nome que recebeu depois que foi avistado em uma pista no Afeganistão.
Um dos militantes mais procurados no Paquistão, Ilyas Kashmiri, foi declarado morto em junho em um ataque de teleguiado da CIA, parte de uma campanha agressiva de teleguiados que autoridades do governo dizem que ajudou a paralisar a Al Qaeda na região. Mais de 1.900 insurgentes nas áreas tribais do Paquistão foram mortos por teleguiados americanos desde 2006, segundo o site www.longwarjournal.com.
Em abril, os EUA começaram a usar os teleguiados armados Predator contra as forças de Gaddafi na Líbia. No mês passado, um Predator armado da CIA errou o ataque a Anwar al Awlaki, o religioso radical nascido nos EUA que se esconde no Iêmen.
Os éticos militares admitem que os teleguiados poderão transformar a guerra em um videogame, infligir baixas civis e, sem um risco direto para os americanos, atrair com maior facilidade os EUA para conflitos. Mas, entre os militares, ninguém discute que os teleguiados salvam vidas americanas. Muitos os consideram versões avançadas de "sistemas de armas individuais", como tanques ou bombas despejadas de aviões.
O ímpeto na tecnologia de teleguiados é desenvolver tecnologia de "bater de asas" ou recriar a física do voo natural, mas com um enfoque para insetos, em vez de aves. As aves têm músculos complexos que movimentam suas asas, o que torna difícil copiar sua aerodinâmica. Desenhar insetos também é difícil, mas seus movimentos de asas são mais simples.
Em fevereiro, pesquisadores revelaram um teleguiado beija-flor, construído para a Agência de Projetos de Pesquisa Avançada de Defesa, capaz de voar a 17 km/h e pousar em um peitoril de janela. Mas ainda é um protótipo.
No quartel-general da Força Aérea na Base Conjunta Langley-Eustis, na Virgínia, há centenas de TVs de tela plana penduradas de esqueletos de metal em uma sala cavernosa. Essa é uma das mais delicadas instalações para processamento, exploração e disseminação de um tsunami de informações vinda de uma rede global de sensores voadores. Os números são impressionantes: todos os dias, a Força Aérea deve processar quase 1.500 horas de vídeo e mais 1.500 imagens fixas, grande parte delas de Predators e Reapers em patrulhas aéreas de combate 24 horas por dia.
As pressões só vão crescer conforme os militares passarem das visões dos sensores de hoje para a nova tecnologia "Olhar de Górgone", capaz de capturar vídeo ao vivo de uma cidade inteira -mas isso exige 2.000 analistas para processar os dados de um único teleguiado, comparados com 19 analistas por teleguiado hoje.
Em Wright-Patterson, o major Michael L. Anderson, um estudante de doutorado no centro de tecnologia de navegação avançada da base, está concentrado em outra parte do futuro: construir asas para um teleguiado capaz de imitar o voo da mariposa-gavião, conhecida por suas técnicas de planagem. "É impressionante o que elas podem fazer", disse o major Anderson, "comparado com o que nossas aeronaves desajeitadas fazem."


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