São Paulo, segunda-feira, 27 de junho de 2011

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Cidade fria americana aguarda os dias de calor

Por LESLIE KAUFMAN
CHICAGO - A "cidade do vento" (palavras que remetem a Chicago) está se preparando para a chegada de uma verdadeira onda de calor -só que permanente.
Cientistas do clima disseram às autoridades municipais que, com base nas tendências atuais, Chicago vai se sentir mais como Baton Rouge, na Louisiana, do que com uma metrópole do norte, como de fato é, antes do fim deste século. Essa previsão, é claro, resulta em preocupação.
Chicago, portanto, está se preparando para um futuro mais úmido e quente.
"Cidades se adaptam ou somem", disse Aaron Durnbaugh, vice-comissário do Departamento do Meio Ambiente de Chicago. "A mudança climática está acontecendo de forma real e dramática, mas também lentamente, de maneira espalhada. Podemos lidar com isso, mas, antes de reagir, precisamos reconhecer. "
Em território americano e, especialmente, no Congresso, a própria existência da mudança climática continua a ser questionada -sobretudo pelos conservadores. No entanto, mesmo que o debate seja acirrado, autoridades municipais e estaduais estão se preparando.
A cidade de Nova York, que está fazendo o seu próprio projeto de adaptação, está preocupada em ser inundada pela subida do oceano. Em Chicago, o esforço começou em 2006, no governo do prefeito da época, Richard M. Daley. Como primeiro passo, a cidade queria ser um modelo de como o aquecimento global pode prejudicar a vida urbana.
As previsões chocaram os urbanistas. Se as emissões de carbono do mundo continuarem em ritmo acelerado, segundo os cientistas, Chicago teria verões como os encontrados no extremo sul dos EUA, com até 72 dias registrando mais de 32°C, antes do final do século. Para a maioria do século 20, a média registrada pela cidade foi de menos de 15°C.
Em 2070, Chicago teria precipitação de 35% maior no inverno e na primavera e 20% menos no verão e no outono. A cidade pode registrar 1.200 mortes relacionadas ao calor por ano.
As ocorrências crescentes de congela e descongela (o que origina os buracos no asfalto) resultariam em prejuízo de bilhões de dólares por causa da deterioração das fachadas dos edifícios, das pontes e das estradas. Cupins, antes incapazes de suportar os invernos de Chicago, começariam a comer madeira.
Levando essas previsões em conta, a cidade escolheu quais adaptações serão priorizadas. Muito do trabalho de adaptação é o de transformar o espaço pavimentado. "As cidades são espaços difíceis que são uma armadilha para a água e o calor", disse Janet L. Attarian, membro do Departamento Municipal de Transporte.
Os 13 mil corredores de concreto foram originalmente construídos sem drenagem e são um pesadelo cada vez que chove.
O trabalho planejado para uma intersecção de seis pontos com enchentes e outras questões é um protótipo. A calçada em frente a uma escola foi ampliada para incluir áreas de plantio. Isso não só incentiva o tráfego de pedestres, deixando seus carros em casa, mas também fornece sombra e uma paisagem agradável. Essas áreas serão preenchidas com plantas que absorvem o excesso de água e ajudam a filtrar os poluentes. Em alguns lugares, a água ficará retida em tanques para que possa ser usada, por exemplo, para regar plantas.
As ciclovias e os espaços de estacionamento que estão sendo adicionados ao longo da rua estão sendo cobertos com pavimento permeável, permitindo que 80% da água da chuva vá para o solo.
Conscientização sobre a mudança do clima causou profunda preocupação com as árvores. Chicago já mudou de uma zona de crescimento para outra nos últimos 30 anos e espera mudar várias vezes até 2070. Sabendo disso, os urbanistas pediram a especialistas que avaliassem a sua lista de plantio. Eles foram orientados a retirar seis das espécies de árvores mais comuns. O clima quente vai tornar essas espécies mais suscetíveis às pragas.
"Um processo constante e contínuo para se certificar de que estamos tão capacitados quanto podemos para enfrentar o futuro", resume Suzanne Malec-McKenna, membro do Departamento do Meio Ambiente de Chicago.


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