São Paulo, segunda-feira, 27 de julho de 2009

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TENDÊNCIAS MUNDIAIS

Guerra das drogas no México atrai adolescentes do Texas

Por JAMES C. McKINLEY Jr.

LAREDO, Texas - Quando foi enfim apanhado, Rosalio Reta informou aos detetives da polícia de Laredo que havia vibrado em cada um de seus homicídios. Era como se ele fosse o Super-Homem ou James Bond, disse. "Gosto do que faço", declarou Reta à polícia em uma confissão gravada. "Não nego."
Reta tinha 13 anos quando foi recrutado pelos Zetas, os infames assassinos do cartel do Golfo do México, segundo a polícia. Era parte de um grupo de adolescentes norte-americanos das ruas empobrecidas de Laredo que se viram atraídos pela guerra das drogas do outro lado do rio Grande, em território mexicano, que prometia altos pagamentos, carros velozes e mulheres sexy.
Depois de um curto período de aprendizado, os jovens foram morar em uma casa do Texas, onde ficavam de prontidão para matar sempre que convocados. O cartel do Golfo estava em guerra contra o cartel de Sinaloa, pelo controle da Interestadual 35, corredor rodoviário que conecta Laredo a Dallas e serve, segundo a polícia, como uma das mais importantes artérias para o tráfico de drogas nas Américas.
Os jovens pagaram um preço elevado. Jesus Gonzalez foi espancado e morto a facadas em uma cadeia mexicana aos 23 anos. Reta, hoje com 19 anos, e seu amigo de infância Gabriel Cardona, 22, estão servindo sentenças que na prática representam prisão perpétua, em penitenciárias dos EUA.
Outros dos jovens norte-americanos em seu círculo, que segundo a política também trabalhavam para os Zetas, terminaram na prisão, fugiram ao México ou desapareceram da maneira permanente que costuma caracterizar os sumiços de pessoas envolvidas com o tráfico de drogas.
No imaginário de muitos norte-americanos, o rio Grande separa o México -uma terra corrupta na qual os cartéis do tráfico parecem deter o controle- dos EUA, nação de lei e ordem onde as autoridades tentam manter criminosos sob controle. Mas a realidade na fronteira é muito mais complexa. Os carteis mexicanos das drogas recrutam jovens de ambos os países e conduzem suas operações de contrabando e de homicídio sob contrato dos dois lados da divisa, ainda que as regras de combate difiram um pouco entre eles.
Essa complexidade está refletida nas curtas mas sangrentas carreiras de Reta, Gonzalez e Cardona, que estão conectados a crimes em ambos os países, segundo transcrições de julgamentos, documentos judiciais e entrevistas com investigadores e membros de suas famílias.
Enquanto trabalhavam como pistoleiros de aluguel, em 2005 e 2006, os três norte-americanos viveram à espera de ordens em uma casa alugada por seus empregadores em Laredo, junto a outra equipe de três matadores mexicanos, apontam depoimentos no julgamento de Reta.
O governo mexicano vem tentando reprimir os carteis de drogas, esforço que já causou a morte de mais de 10 mil mexicanos nos últimos 18 meses. Algumas das mortes resultam de tiroteios entre os cartéis e as autoridades, com os dois lados ostentando armamentos pesados. Mas os homicídios de traficantes de drogas envolvidos em disputas de território e de policiais e militares que se colocassem no caminho dos traficantes -a espécie de trabalho que Reta, Gonzalez e Cardona realizaram- também respondem por milhares de vítimas.
Os assassinos recebiam suas instruções de Lucio Quintero, ou "El Viejón", um dos líderes dos Zetas do outro lado do rio, segundo documentos judiciais. Cada matador recebia um pagamento mensal fixo de US$ 500 e mais entre US$ 10 mil e US$ 50 mil por assassinato. O responsável direto pelo ataque também recebia dois quilos de cocaína.
O detetive Roberto Garcia, do departamento de polícia de Laredo, diz que todos eles trabalhavam para Miguel Treviño -líder dos Zetas em Nuevo Laredo, a cidade mexicana do outro lado do rio Grande, vizinha a Laredo. Treviño também é conhecido como "El Cuarenta". (É comum entre os membros dos Zetas adotar um número como identificação.)
Em determinada ocasião, Reta recebeu de presente um Mercedes no valor de US$ 70 mil, por um trabalho bem realizado. Membros de suas famílias descrevem a presença dos jovens em festas dadas pelos líderes dos cartéis. Para manter o entusiasmo de seus seguidores, os líderes faziam sorteios de automóveis, armas e até mesmo encontros com mulheres atraentes, contaram familiares, pedindo anonimato.
"Os cartéis seduzem as pessoas que interessam a eles", disse o detetive Garcia, que desbaratou a quadrilha. "Eles acenam com todo aquele dinheiro e poder, a facilidade de enriquecer. E esses garotos têm a romântica ideia de que viverão para sempre". Garcia descreve Cardona como líder da célula norte-americana de matadores -um jovem ousado, esperto, que orquestrou os assassinatos de pelo menos cinco pessoas conectadas ao cartel de Sinaloa.
A mãe dele, Gabriela Maldonado, que trabalha como enfermeira domiciliar, disse que Cardona cresceu na companhia de um pai abusivo e alcoólatra, mas que havia se saído bem na escola até a oitava série, quando o pai abandonou a família. "Ele era muito inteligente. Não sei o que aconteceu", disse ela. "Quando era pequeno, dizia sempre que queria ser advogado."
Reta contou ao detetive Garcia que tinha 13 anos quando matou pela primeira vez. Foi solicitado a provar sua lealdade fazendo-o diante de Treviño. Depois disso, matar se tornou um vício, disse Reta. "Havia outros para fazer o serviço, mas eu era sempre voluntário", ele disse, em seu depoimento à polícia. "Era como brincar de James Bond."


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