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Pisque duas vezes se gosta de mim
Por CARL ZIMMER
LINCOLN, Massachusetts - Sara Lewis é fluente em vaga-lumes. Em uma noite, ela caminha por um campo em uma fazenda no leste de Massachusetts, EUA, observando
os primeiros vaga-lumes da noite que se erguem no ar e começam a piscar. Lewis, ecologista evolucionária da Universidade Tufts, ali perto, indica seis espécies na campina,
cada qual com seu próprio padrão de piscadelas.
Ao longo de uma borda do campo estão Photinus greeni, com piscadas duplas separadas por três segundos de escuridão. E, perto de uma floresta, estão Pyractomena angulata, que têm o padrão favorito de Lewis. "É como uma chuva cor de laranja tremulante", disse. Os vaga-lumes que piscam no ar são todos machos. Embaixo, na grama, como Lewis mostra, as fêmeas procuram padrões de luz dos machos de sua própria espécie, e às vezes respondem. Ela pega uma lanterna pequena e clica duas vezes, como um Photinus greeni. Uma fêmea de Photinus pisca de volta.
"A maioria das pessoas não percebe que existe esse chamado e essa resposta", disse
Lewis. "Mas é muito fácil conversar com os vaga-lumes." Para ela, essa campina é o
palco de um melodrama invertebrado, com duetos de flerte e competições de afeto, de cruel
traição e morte terrível. Nos últimos 16 anos, Lewis foi a esse campo para decifrar as forças
evolucionárias que estão em jogo nessa produção, enquanto os vaga-lumes lutam para sobreviver e transmitir seus genes para a próxima geração.
Ela buscou vaga-lumes em
acasalamento à noite, marcou seus locais com bandeiras e depois os visitou durante toda
a noite. Eles continuavam se acasalando de madrugada. "Foi bonito ver o sol nascer e os casais se separarem. As fêmeas saem rastejando pela grama para pôr os ovos", disse.
Quanto mais ela observou o flerte dos vaga-lumes, mais ficou claro que as fêmeas escolhem cuidadosamente os machos. Elas iniciam diálogos com até dez machos em uma
noite e podem manter várias conversas ao mesmo tempo. Mas uma fêmea só acasala com
um macho, geralmente aquele ao qual ela mais respondeu.
Lewis se perguntou se as vaga-
lumes estavam escolhendo seus parceiros com base na variação de suas luzes. Ela levou
vaga-lumes fêmeas para seu laboratório, onde possui sistemas de luz controlados por
computador que podem imitar o pisca-pisca dos insetos. As fêmeas se mostraram
extremamente exigentes. Em muitos casos, o macho não recebeu qualquer resposta. Em
algumas espécies, as fêmeas preferiam piscadas em ritmo mais rápido. Em outras, elas
preferiam machos que davam piscadas mais demoradas.
É possível que as fêmeas
usem as luzes para descobrir quais machos podem oferecer os melhores presentes. Em
muitas espécies invertebradas, os machos fornecem às fêmeas comida para ajudar a
alimentar seus ovos. Lewis e seus colegas descobriram que os vaga-lumes também fazem
esses chamados presentes nupciais -pacotes de proteína que injetam com o esperma.
Receber presentes de casamento, Lewis e seus colegas demonstraram, pode fazer uma enorme diferença no sucesso reprodutivo de um vagalume fêmea. "Praticamente dobra o número de ovos que ela pode depositar em sua vida", disse. Em pelo menos algumas espécies as fêmeas podem usar o pisca-pisca para escolher machos com os maiores presentes. "Em alguns casos podem ser sinais honestos, e, em outros, podem ser sinais enganadores", explicou Lewis. O engano pode na verdade evoluir facilmente entre os vaga-lumes. Acontece que um macho não precisa queimar muitas calorias extras para piscar.
"Exige só um pouco de energia. É menos dispendioso para um macho do que ficar
voando", disse Lewis. Se brilhar é tão barato para os machos, parece estranho que nem todos tenham evoluído para ser mais atraentes para as fêmeas. "O que impede que seus flashes fiquem cada vez mais demorados ou rápidos?", perguntou-se Lewis. Uma resposta pode vir de um animal chamado Photuris, um vaga-lume que come outros vaga-lumes.
Os cientistas descobriram que o Photuris tinha maior probabilidade de atacar quando as piscadelas eram mais rápidas. Em outras palavras, luzes vistosas -as que as fêmeas preferem- também aumentam a probabilidade de que os machos sejam mortos.
"Pelo menos quando houver predadores por perto, haverá forte seleção para luzes menos chamativas", disse Lewis.
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