São Paulo, segunda-feira, 27 de setembro de 2010

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No setor de energia limpa, China define suas regras


Produzindo painéis solares com a ajuda de subsídios de Pequim

Por KEITH BRADSHER

CHANGSHA, China - O pujante setor de energia limpa da China, hoje com mais de um milhão de empregos, está passando a dominar a produção de tecnologias essenciais para reduzir o aquecimento global e a poluição aérea.
Changsha, capital da província de Hunan, no centro-sul da China, e duas cidades vizinhas surgem como um centro de fabricação de energia limpa. Elas produzem painéis solares para os mercados americano e europeu, desenvolvendo novos equipamentos para fabricar os painéis e se ramificando para as turbinas de vento.
Em contraste, as empresas de energia limpa nos Estados Unidos e na Europa estão em dificuldade. Algumas começaram a reduzir empregos e a transferir as operações para a China.
Grande parte do sucesso da energia limpa na China está nas políticas agressivas de subsídios do governo, que ajudam essa indústria exportadora crucial de maneiras que a maioria dos outros governos não adota.
Essas medidas correm o risco de infringir as regras internacionais a que a China e quase todos os outros países estão submetidos, segundo alguns especialistas do setor.
Uma visita a uma das mais recentes histórias de sucesso de Changsha oferece um exemplo dos métodos do governo local. A Hunan Sunzone Optoelectronics, uma empresa de apenas dois anos, fabrica painéis solares e envia cerca de 95% deles para a Europa. Agora está abrindo escritórios em Nova York, Chicago e Los Angeles, preparando-se para uma investida no mercado americano.
Para ajudar a Sunzone, o governo municipal transferiu para a companhia nove hectares de terrenos urbanos valiosos próximos ao centro, por um preço de pechincha. Isso aumentou em muito o valor da empresa.
Enquanto isso, um banco estatal se prepara para emprestar à empresa com juros baixos, e o governo provincial melhora o negócio reembolsando a companhia pela maior parte dos juros pagos, para ajudar a Sunzone a dobrar sua capacidade de produção.
Mas esse tipo de ajuda viola as regras da Organização Mundial do Comércio, que proíbem qualquer subsídio para exportadores, e poderá ser contestado com sucesso nos tribunais da agência, disse Charlene Barshefsky, que foi representante comercial dos Estados Unidos durante o governo Clinton e negociou os termos da entrada da China na organização em 2001.
Se o país com subsídios não os retirar, outros países podem retaliar impondo tarifas altas às importações daquele país.
Mas as empresas multinacionais e associações setoriais no ramo de energia limpa, como em muitas outras indústrias, têm hesitado em abrir casos comerciais, temendo a reputação da China por retaliação contra joint ventures potencialmente negando o acesso ao mercado a qualquer empresa que assuma posições contrárias à chinesa.
A missão chinesa na OMC preferiu não realizar comentários para esta reportagem.
Um ator quase ausente da indústria solar cinco anos atrás, a China está prestes a produzir mais da metade dos painéis solares do mundo este ano. Mais de 95% deles serão exportados para países como EUA e Alemanha, que oferecem subsídios generosos para consumidores de painéis solares.
A Evergreen Solar, de Marlboro, Massachusetts, pretende transferir para a China as últimas etapas de fabricação de seus painéis solares no próximo verão, eliminando 300 empregos. Ela lutou para emprestar dinheiro nos EUA antes de descobrir que os custos na China eram menores.
"Você não consegue um centavo nos EUA, não importa quem você procure -bancos ou governo. É horrível", disse Michael El-Hillow, diretor financeiro da empresa. "Essa é a vantagem oculta de estar na China."


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