São Paulo, segunda-feira, 27 de setembro de 2010

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Móveis de madeira que contam histórias

Por LAWRENCE W. CHEEK

SEATTLE - Seth Meyer e John Wells recolhem árvores urbanas condenadas por desenvolvimento, doenças ou tempestades e as transformam em móveis personalizados, cada um deles uma narrativa botânica diferente.
Sua empresa, criada há quatro anos, foi rentável desde o início, diz Wells, e a receita cresceu anualmente; atingiu US$ 850 mil no ano passado, e os sócios dizem que deverá ultrapassar US$ 1 milhão este ano.
Hoje há nove funcionários na Meyer Wells, e as encomendas de móveis cresceram muito além das cozinhas de casas suburbanas para clientes de alta visibilidade como as lojas Starbucks e a Universidade de Washington.
Se há uma regra na oficina da empresa é esta: respeitar a narrativa da árvore -incluindo os capítulos sobre sua dura vida urbana.
Meyer certa vez encontrou um prego de aço enfiado em um prancha de cerejeira, talvez remanescente de um prego usado para afixar na árvore uma placa de "gato perdido". Ele o deixou ali, como parte da história. Quase todas as suas peças apresentam um "detalhe vivo" -um pedaço da prancha deixado sem acabamento para celebrar a topografia do tronco da árvore. A filosofia da Meyer Wells é impor o mínimo possível de projeto humano.
"Eu acho que nosso idealismo está se encontrando com a demanda para fazer prédios mais verdes", diz. Janet Pomeroy, presidente do conselho da Câmara de Comércio Verde de San Francisco, diz que as empresas ecológicas que se saem bem são as que têm história para contar.
A Meyer Wells teve a sua desde o início. Embora os fabricantes de móveis customizados sejam abundantes como cogumelos na costa noroeste-Pacífico dos Estados Unidos, a Meyer Wells descobriu um território diferente: móveis com grandes pranchas que podem trazer para os espaços interiores a força crua do meio ambiente, em vez da visão de um construtor.
Wells diz que a companhia também viu trajetórias na cultura e nas empresas de todo o mundo, especialmente os movimentos de locavore [alimentação com produtos locais] e slow food, que sugeriam que era o momento certo para seu negócio. "Começamos um movimento slow wood" [madeira lenta], ele diz.
Seu modelo empresarial não depende dos telefonemas angustiados de amantes de árvores, mas cada vez mais de redes com outras empresas e profissionais de design. Tutta Bella, uma rede de pizzarias elegantes, pediu que a Meyer Wells construísse uma mesa de chef de 9 m de comprimento feita de um olmo de mais de um século do parque da cidade, que havia rachado em uma tempestade.
Meyer, 40, que abandonou o colegial, irradia uma clara obsessão pelo artesanato. "Algumas pessoas saem, porque a escola não serve para elas. Esse é o caso do Seth", afirma Wells.
Hoje está em produção em sua oficina uma grande mesa de jantar feita de dois olmos vermelhos derrubados por uma tempestade. Nessa altura, as pranchas estão encostadas a uma parede, com anotações e linhas rabiscadas com giz. Uma anotação ao lado de uma longa rachadura especifica "ABRIR". A rachadura será limpa e estabilizada, mas não preenchida ou escondida. As pranchas serão encaixadas com cortes curvos minuciosos, de acordo com os veios da madeira.
Meyer torna-se um guia turístico para toda uma geografia embutida nos desenhos da madeira -"ilhas" e "catedrais".
Se Meyer ainda gosta de ponderar a respeito das possibilidades expressivas de uma rachadura em uma prancha, hoje Wells parece mais movido pela questão da sustentabilidade.
"Eu realmente acredito que um designer pode fazer melhores opções, e de que isso pode influenciar as pessoas e nos mover em uma direção mais sustentável", diz. "É isso que eu escolhi fazer, e acho que é o que nos transformou em uma empresa de sucesso."


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