São Paulo, segunda-feira, 27 de setembro de 2010

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China cobiça riqueza marítima

Por WILLIAM J. BROAD

Quando meses atrás três cientistas chineses mergulharam até o fundo do mar do Sul da China num pequeno submarino, fizeram mais do que simplesmente fincar a bandeira do seu país nas profundezas escuras. Os homens, que desceram mais de 3.000 metros em um veículo do tamanho de uma caminhonete, também indicaram a intenção de Pequim de assumir a liderança na exploração de partes inacessíveis do leito oceânico, ricas em recursos naturais.
E muitos desses recursos por acaso estão em áreas onde a China tem intensas disputas territoriais com nações vizinhas.
"É um grande feito", disse Liu Feng, coordenador dos mergulhos, ao jornal "China Daily". O leito marinho global está repleto de nódulos minerais avaliados por especialistas em trilhões de dólares, além de muitos objetos com valor estratégico: cabos que transmitem comunicações diplomáticas, armas nucleares perdidas, submarinos naufragados e centenas de ogivas remanescentes de testes com mísseis.
Embora um pequeno veículo sozinho não tenha a capacidade de revirar todos esses tesouros, ele coloca a China em uma excelente posição para partir atrás deles.
"É um programa muito deliberado", disse Don Walsh, pioneiro dos mergulhos em águas profundas, e que recentemente visitou o submergível e seu fabricante na China.
O pequeno veículo -chamado Jiaolong, nome de um mítico dragão marinho -foi apresentado em agosto, após oito anos de desenvolvimento secreto.
Ele foi projetado para ir mais fundo do que qualquer outro submarino do mundo, o que dá à China acesso a quase 100% do leito oceânico.
Os testes deste ano foram até 3.759 metros de profundidade. No ano que vem, o Jiaolong deve descer até 5.000 metros, para em 2012 chegar a 7.000 metros, superando o japonês Shinkai, atual recordista, que atingiu 6.500. Rússia, França e Estados Unidos, que já dominaram essa área, ficaram bem para trás. Um veículo submergível se diferencia de um submarino por seu tamanho pequeno, por precisar de um navio-mãe na superfície e por sua capacidade de mergulhar muito mais fundo, apesar das pressões evidentemente esmagadoras. Existem poucos exemplares deles.
A China iniciou em 2002 o seu projeto de submergível. Dos Estados Unidos, ela comprou luzes avançadas, câmeras e braços mecânicos. À Rússia, encomendou o casco. Weicheng Cui, professor do Centro de Pesquisas Científicas com Navios, que está construindo o submergível, estima que 40% dos equipamentos do veículo vieram do exterior.
Pilotos chineses também estiveram presentes em oito mergulhos no Alvin, o mais famoso veículo que opera em águas profundas do mundo, cujo financiador é o Instituto Oceanográfico Woods Hole, em Cape Cod (Massachusetts).
Especialistas americanos familiarizados com o programa chamam a atenção para a pouca experiência da China nesse campo tão amedrontador. "Eles estão sendo muito cautelosos", relatou Walsh. "Eles respeitam o que não sabem, e estão se empenhando em aprender."
Ele disse que os chineses estão especialmente preocupados em evitar o constrangimento de um desastre que deixe os tripulantes retidos ou mortos no fundo do mar.
Mesmo assim, Wang Weizhong, vice-ministro chinês de Ciência e Tecnologia, disse que os testes "representaram um marco" para a China e para a exploração em nível global. Os êxitos do veículo, afirmou em agosto, "lançaram sólidas fundações para a sua aplicação prática no levantamento de recursos e na pesquisa científica".
Cui, por sua vez, disse por e-mail que os testes ocorreram longe de ilhas disputadas, "para evitar quaisquer questões diplomáticas".
Walsh contou que a questão da bandeira causou mais estranheza do que orgulho entre os envolvidos. "Nós demos risada daquilo", disse, relembrando a sua visita à China. "Esses caras são bastante apolíticos e bastante isolados de Pequim. Eles são apenas contratados fazendo seu trabalho."


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