São Paulo, segunda-feira, 27 de setembro de 2010

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Móveis rústicos são resultado de reflexão

Por PENELOPE GREEN

O designer holandês Joost Van Bleiswijk, 34 anos, cria objetos domésticos como relógios e armários de louça com aço que deixa ao ar livre por cerca de um mês, até ganhar uma camada de ferrugem.
"Gotículas de chuva e muito vento dão uma aparência melhor -quem sabe por quê?", disse o designer recentemente. Depois de enferrujadas, ele trabalha suas peças com um maçarico. "Acho que, hoje em dia, as pessoas ficam entediadas com coisas perfeitas demais", disse.
Móveis de aparência grosseira, feitos à mão por homens usando motosserras, é a novidade mais recente do design. "Butch craft", ou "artesanato viril", é como o marqueteiro Murray Moss descreve as criações que reuniu em uma mostra em sua loja Moss, em Nova York. "Tem uma estética inacabada, viril, de levantamento pesado", disse Moss, embora essa estética seja criada com sensibilidade (o termo "butch", cujo significado original era "extremamente masculino", foi adotado pela comunidade lésbica para referir-se a um tipo de hipermasculinidade).
Há vasos de couro fervido prendidos com porcas e varados por hastes de aço, feitas pelo britânico Simon Hasan, que emprega uma técnica usada no passado para amaciar e moldar armaduras medievais.
As "mesas de quilha" do norueguês Oscar Magnus Narud têm pernas de ferro que você mesmo insere nos lugares apropriados, usando uma marreta fornecida por seu criador.
Marigold constrói mesas e bancos espantosos que dominam a exposição na loja de Moss. Feitos na Noruega, sua inspiração veio de torres de transmissão elétrica. Marigold usou uma serra circular e um pedaço de madeira único para criar as peças de aparência robusta e pouco artística.
"Acho que as pessoas hoje em dia enxergam um certo tipo de ornamentação com muita desconfiança", disse ele.
"Eu, por exemplo, quando vejo algo cortado a laser, acho que é apenas um exemplo de design preguiçoso.
Este tipo de contenção é importante porque você procura focar a ideia, e não tanto a forma."
Ele recorda uma conversa que teve recentemente sobre escolas inglesas: "se você é criativo e um pouco inteligente, você é incentivado a fazer arte, mas se você é -como posso dizer?- um pouco devagar, você é impelido para o artesanato."
Como assim, aulas de marcenaria, por exemplo? "Sim, é basicamente isso", ele respondeu. "Era isso o que eu queria fazer. Mas fui incentivado a fazer arte."
As obras de "butch craft" também podem incluir trabalhos não funcionais, como as peças de placas de reboco de 1,2 m de altura, em planos quebrados, criadas por Aaron Raymer, em Louisville, Kentucky.
Raymer vinha trabalhando havia anos, instalando placas de reboco, quando se deu conta de que poderia usar as placas para criar seus próprios trabalhos.
Será que tempos difíceis pedem trabalhos contundentes?
"Um colecionador de verdade pode querer trabalhos que expressem a voz deste momento", disse David McFadden, curador chefe e vice-presidente do Museu de Artes e Design, em Manhattan.
"As pessoas estão realmente ansiosas para vivenciar o processo, alguma coisa palpável", observou. Quanto à virilidade do estilo, ele prosseguiu: "O 'butch' de um homem é o feminino de outro. Atribuímos características determinadas a objetos de design. Eles dão pistas da personalidade."
Nos últimos dez anos, disse Paul Johnson, dono de uma galeria em Nova York, "o design tornou-se muito futurista, muito cheio de brilho. Acho que o que vem acontecendo no mundo permitiu que artistas que criam objetos de valor mais acessível com suas mãos ganhassem participação no mercado."
Johnson acrescentou: "Alguns desses trabalhos levam meses para ser feitos".
Em uma era definida pelo gosto pela "autenticidade conspícua", parafraseando Andrew Potter, autor de "The Authenticity Hoax: How We Get Lost Finding Ourselves" (O logro da autenticidade - como nos perdemos tentando nos encontrar), é fácil ser cínico. O "butch craft" pode ser uma coleção de móveis feitos por hippies barbudos com madeira reutilizada.
Moss rejeitou essa hipótese. "Não estamos falando de um sujeito que cria uma cama de chifres de veado", disse. "Estamos falando de uma progressão em direção a um gesto muito elegante. É apenas que os materiais possuem essa robustez."
Ele quer dizer que seus artistas refletiram muito antes de optarem pela aspereza. O que nos conduz de volta a "butch".
"Empreguei o termo 'butch' em lugar de 'masculino', 'áspero' ou 'viril', porque quero dizer é que estes são trabalhos que seriam estereotipicamente vistos como viris, mas que são expressos por uma personalidade estereotipicamente vista como sensível, ou feminina."
Em outras palavras, um verdadeiro artista.


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