São Paulo, segunda-feira, 27 de setembro de 2010

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Maestro volta à atividade


Seiji Ozawa está limitando suas apresentações ao Japão

Por JAMES R. OESTREICH

MATSUMOTO, Japão - O regente Seiji Ozawa sempre exalou energia e espírito positivo, tanto sobre o palco quanto em seus contatos pessoais. E, apesar de ter passado por uma cirurgia devido a um câncer do esôfago, voltou a fazê-lo em entrevista recente.
Com aparência cansada e voz rouca, Ozawa, 75, sentado na sala principal de apresentações do Festival Saito Kinen que dirige, contou sua história dolorosa.
"Eu fiquei mais ou menos ameaçado de vida", disse Ozawa, cujo inglês é idiossincrático, apesar de 40 anos vividos em grande parte nos Estados Unidos e no Canadá.
Ele já sofria de dor ciática e, no final do ano passado, descobriu que tinha câncer. Em janeiro, contou, seu esôfago foi extirpado.
"É uma coisa fantástica", disse. "Eles puxaram o estômago para cima -dá para imaginar algo assim?- e o remontaram aqui", acrescentou, apontando para sua clavícula e mostrando uma cicatriz que atravessa sua garganta.
Ozawa se recuperou, embora tenha perdido cerca de 13,5 kg, o que o deixou com aparência decididamente magra. Desde a cirurgia, informou, ele já recuperou "um quilo e 700 gramas". O mais importante é que em junho, tendo completado a quimioterapia, ele foi declarado livre do câncer, mas a dor ciática faz com que caminhar ou reger sejam difíceis.
Ozawa cancelou todos seus compromissos para este ano, menos dois. Um deles foi em agosto, com o Festival Saito Kinen, evento fundado principalmente por ele em 1992. O outro será o festival JapanNYC, do qual ele é diretor artístico e que terá lugar no Carnegie Hall, em Nova York, com Ozawa regendo a Orquestra Saito Kinen. Em 2011, pretende restringir seus trabalhos como regente, principalmente ao Japão.
Ozawa, que foi diretor musical da Orquestra Boston Symphony por 29 anos, entre 1973 e 2002, diz que quer restabelecer uma presença nos EUA, mesmo que temporária. Ele tem cidadania dupla, japonesa e americana, mas reconheceu que voltou a considerar o Japão como seu lar. E, a julgar pelos cartazes, a acolhida e o ambiente nesta cidade, os japoneses o estão recebendo de braços abertos.
Quando, no início de agosto, Ozawa regeu a Orquestra Saito Kinen em concertos particulares, ele disse ao "Japan Times": "Considero, hoje, o primeiro dia em que regi diante de uma plateia após minha convalescença, o primeiro dia de minha segunda vida". E acrescentou: "Espero que minha música tenha ganhado mais profundidade".
Se isso aconteceu ou não é algo que provavelmente só será percebido pela música, o meio de expressão mais natural do maestro. Deixando de lado suas dificuldades com idiomas, Ozawa sempre teve a tendência a descontar o valor da comunicação verbal.
"Minha única regra é evitar as palavras", disse, falando da regência. No lugar delas, desenvolveu uma linguagem muito eloquente de comunicação corporal plena.
Indagado sobre quais significados ou máximas pode ter tirado da doença, Ozawa respondeu com generalidades. "Me senti muito feliz pelo fato de ter me tornado músico", afirmou. "A música é tão importante. E então eu tive tanto tempo, e não podia fazer mais nada, que a música foi ganhando importância cada vez maior."
Ele contou que tem sentido satisfação enorme por aprofundar-se em "War Requiem", de Benjamin Britten, que o festival levará ao Carnegie Hall.
"Talvez a música seja um pouco pesada demais, mas fiquei muito feliz por estudar e ter tempo para isso", disse. "A música é algo realmente maravilhoso para mim. Ela salvou minha vida."


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