São Paulo, segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

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Recurso natural pode virar maior motivo de conflitos

Por THOM SHANKER

Minerais raros. Alimentos e água. Solo arável. Florestas que purificam o ar.
No coração intelectual do mundo militar e político, essas questões estão emergindo não só como questões ambientais, mas como fatores que podem levar a conflitos no século 21.
O papel dos recursos naturais nos conflitos não é novo. Do mesmo modo como os conquistadores espanhóis buscavam ouro, Saddam Hussein lutou pelo petróleo do Kuait. E não é de hoje que países situados rio abaixo temem que seus vizinhos limitem o fluxo de água nos rios Nilo, Eufrates e Jordão.
Agora, um novo campo de estudo sistemático está sendo aberto em centros de pesquisas, no Pentágono e em instituições de inteligência. A disciplina parte da premissa de que o século 21 será moldado não apenas pelo crescimento econômico competitivo, mas por carências com potencial de criar conflitos: o esgotamento de minerais, a desertificação da terra, a poluição da água ou seu consumo excessivo, as mudanças climáticas que levam à mortandade de peixes e prejudicam plantações.
Especialistas em segurança nacional começaram a classificar esses fatores como ameaças à "segurança natural" e a estudá-los. Uma pergunta enquadra seu pensamento: quais são os novos relacionamentos entre recursos naturais, diplomacia, crises e conflitos?
Um indício da complexidade disso tudo pode ser visto na fronteira entre Afeganistão e Paquistão. Em um primeiro momento, uma guerra contra terroristas parece guardar pouca relação com recursos naturais. Mas vale a pena olhar de novo: no outono deste ano, gangues paquistanesas furiosas na fronteira incendiaram caminhões de combustível que levavam suprimentos vitais às tropas aliadas. E, no final daquela linha de abastecimento, o planejamento americano estava um pequeno passo à frente: marines estavam testando nova tecnologia em coletores de energia solar, para reduzir sua dependência do diesel combustível.
Estrategistas sabiam que havia outros trunfos em jogo na região. O Afeganistão é visto, há décadas, como potencial rota de gasodutos que transportariam o gás da Ásia central, mas apenas se houvesse paz. E seu subsolo contém depósitos enormes de recursos naturais como o lítio, crucial para a produção de pilhas para eletrônicos. A China tem interesse nisso.
Segundo um funcionário sênior de inteligência dos EUA, o Conselho de Inteligência Nacional lançou um grande esforço para analisar as ameaças decorrentes da escassez de água e de alimentos relacionados às mudanças climáticas, além de outras causas ambientais.
Funcionários de segurança tomam o cuidado de dizer que a natureza é só um dos fatores no surgimento de conflitos.
Em última análise, o papel da política e da diplomacia na condução de relacionamentos é decisivo. "Mas os recursos naturais podem ser um gatilho de instabilidade", disse um funcionário sênior de inteligência dos EUA cujo cargo o impede de divulgar sua identidade. "Eles amplificam outras questões."
No verão passado, enchentes provocaram o deslocamento de milhões de paquistaneses, levando Washington a temer que os movimentos militantes se mostrassem mais hábeis em levar ajuda à população do que o governo paquistanês fraco.
No mês passado, o grupo Refugees International disse que o Exército paquistanês reagiu com eficácia, mas que as autoridades civis tiveram dificuldade em ajudar, e que as agências americanas e internacionais precisam estar preparadas para calamidades do clima.
Altos funcionários militares e de inteligência que estudam questões de segurança natural dizem que a administração Obama demonstra uma compreensão melhor das sutilezas do problema do que sua predecessora, em parte porque não contesta as premissas básicas sobre o impacto prejudicial das mudanças climáticas.
"Mas as questões são complexas, e os atores e as incertezas são muitos", disse um funcionário sênior da inteligência americana.


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