São Paulo, segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

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Cultivando a mata para colher empregos

Por ELISABETH MALKIN

IXTLÁN de JUÁREZ, México - Há três décadas, os índios zapotecas aqui no Estado de Oaxaca, no sul do México, lutaram e conquistaram o direito de gerir comunitariamente a floresta. Antes disso, empresas estatais a haviam explorado à vontade, sob concessões federais.
A comunidade montou suas madeireiras e começou a estudar formas de proteger a floresta. Os empreendimentos da cidade empregam 300 pessoas que extraem madeira, produzem móveis e cuidam das matas, e Ixtlán se tornou o padrão-ouro da posse e gestão comunitária de florestas, segundo especialistas.
No México, os empreendimentos comunitários incluem desde florestas de mogno na península do Yucatán até matas de pinho e carvalho na Sierra Madre (oeste). Cerca de 60 empresas, inclusive a de Ixtlán, são certificadas pelo Conselho de Manejo Florestal, com sede na Alemanha, que avalia práticas florestais sustentáveis. Entre 60% e 80% das florestas remanescentes do México estão sob controle comunitário, segundo Sergio Madrid, do Conselho Cívico Mexicano para a Silvicultura Sustentável.
Nos países em desenvolvimento, lugares de fiscalização pífia, restringir o acesso a uma floresta de pouco serve para evitar a extração ilegal de madeira ou a ocupação agropecuária e urbana. "A não ser que as comunidades locais estejam comprometidas em conservar e proteger as florestas, isso não vai acontecer", afirmou David Kaimowitz, ex-diretor do Centro para a Pesquisa Florestal Internacional, hoje na Fundação Ford. "O governo não pode fazer isso por elas."
Um estudo da ONG americana Iniciativa dos Direitos e Recursos mostrou que mais de um quarto das florestas nos países em desenvolvimento são geridas por comunidades. A tendência é mundial -da China ao Brasil.
Em Ixtlán, conforme as tradições zapotecas, todas as decisões sobre a floresta e sua exploração são feitas por uma assembleia de 390 moradores (a maioria homens). Esses "comuneros" contribuem com seu trabalho para a floresta e suas atividades.
"Pode-se ver a harmonia", afirmou Francisco Luna, secretário da comissão encarregada da floresta e da sua exploração. "Para vivermos em paz, precisamos respeitar todas as regras."
Muitos problemas que afligem outras florestas do México, como o desmatamento e a extração ilegal de madeira, quase não preocupam por aqui. Pedro Vidal García, veterano gestor florestal de Ixtlán, hoje na entidade Rainforest Alliance, riu ao ser questionado sobre a presença de madeireiros clandestinos nos 19 mil hectares de floresta que a comunidade controla. "Quem tentar um negócio ilegal próprio é severamente julgado", afirmou. "A assembleia é muito dura."
No ano passado, as empresas da comunidade lucraram cerca de US$ 230 mil. Desse total, 30% foram reinvestidos no negócio, 30% foram para a preservação, e 40% se destinaram aos trabalhadores e à comunidade, financiando coisas como aposentadorias, uma cooperativa de crédito e moradia para jovens locais que estudam na capital estadual.
A maioria dos gestores e engenheiros florestais do empreendimento é de filhos de "comuneros" mais velhos, de uma geração que já teve chance de estudar. Julio García Gómez, 31, funcionário de uma serraria em Ixtlán, voltou há cinco anos de Nova Jersey, onde trabalhava ilegalmente. O salário aumentou desde seu regresso "por causa do equipamento, por causa do treinamento".
Mesmo os mais entusiasmados defensores da gestão florestal comunitária admitem que ela não é uma solução universal. Mas há uma enorme melhoria em relação ao passado.
"As coisas estão funcionando", disse o agrônomo Francisco Chapela, que chegou a Oaxaca 30 anos atrás e hoje trabalha na Rainforest Alliance. "Muitos empregos foram criados, e muito dinheiro veio para as comunidades."


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