Por NICHOLAS BAKALAR

Todo o mundo boceja, mas ninguém sabe por quê. Começamos a bocejar quando ainda estamos no útero. A maioria das espécies vertebradas boceja ou faz algo que se assemelha a um bocejo -até mesmo aves e peixes. Mas os mecanismos fisiológicos do bocejo, sua finalidade e seu valor possível para a sobrevivência são desconhecidos.
Um artigo recente publicado no periódico "Neuroscience & Behavioral Reviews" oferece muitas teorias, mas poucas provas experimentais da validade de qualquer uma delas.
"A ausência de evidências experimentais, às vezes, é acompanhada de discussões acaloradas", comentou Adrian G. Guggisberg, pesquisador da Universidade de Genebra e autor principal do artigo.
Hipócrates, no século 4 a.C., propôs a ideia de que o bocejar livra as pessoas de "ar ruim" e aumenta o "ar bom" no cérebro. A variante moderna e amplamente difundida dessa ideia reza que bocejar ajuda a elevar os níveis de oxigênio no sangue e a reduzir os níveis de dióxido de carbono.
Se isso fosse verdade, escreve Guggisberg, as pessoas bocejariam mais quando se exercitam. E os doentes cardíacos ou pulmonares, que frequentemente sofrem pela falta de oxigênio, não bocejam mais que as outras pessoas.
Pesquisadores expuseram pessoas saudáveis a misturas de gás contendo altos níveis de dióxido de carbono e descobriram que isso não as induz a bocejar mais.
Não há dúvida de que bocejamos com mais frequência antes e depois de dormir, e que a sensação de sonolência se faz acompanhar por bocejos. Logo, é possível que o bocejar ajude a nos manter despertos.
Pesquisadores induziram humanos a bocejar e observaram sua atividade cerebral, por meio da eletroencefalografia. Os EEGs não renderam evidências de que o bocejar aumente o estado de vigília cerebral.
Poderia a finalidade ser a de regular o calor corporal? Pesquisadores demonstraram que os bocejos contagiosos podem ser reduzidos quando se coloca uma bolsa de gelo sobre a testa e que aumentam com uma bolsa térmica quente. Mas o experimento não levou em conta outros fatores. Uma bolsa térmica quente eleva a sonolência, enquanto uma bolsa gelada intensifica o estado desperto.
O pós-doutorando Andrew C. Gallup, da Universidade Princeton, em Nova Jersey, enxerga uma conexão. "Isso sugere ligação com uma função termorreguladora", escreveu em artigo para a "Neuroscience & Biobehavioral Reviews".
Qual é, então, a finalidade do bocejo?
Crianças de até cinco anos não estão sujeitas ao bocejar contagioso, ao contrário de adultos humanos, chimpanzés, macacos e cães. Aparentemente, é necessária uma compreensão dos estados mentais dos outros.
Essa ideia é respaldada por observações de humanos feitas com a ajuda de ressonâncias magnéticas: ver outras pessoas bocejando ativa regiões do cérebro relacionadas à imitação, à empatia e a comportamentos sociais.
Mas, observa Gallup, espécies solitárias também bocejam, e chimpanzés e humanos bocejam quando estão sozinhos.
Ele admitiu que o bocejo pode ter uma função social, mas ressalvou: "Qualquer função social que tenha deve ser uma função derivada, e não uma característica primitiva e subjacente do comportamento".
Guggisberg ofereceu uma conclusão com a qual poucos especialistas discordarão: "O bocejo é um fenômeno muito rico e complexo".


Texto Anterior: Roupa que não amassa tem perigos ocultos

Próximo Texto: Para resolver quebra-cabeças, basta estar de bom humor
Índice | Comunicar Erros