São Paulo, segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

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Para resolver quebra-cabeças, basta estar de bom humor

Relaxe, e a solução do quebra-cabeças virá facilmente

BENEDICT CAREY
ENSAIO

Relaxe! Dessa forma, a solução do quebra-cabeça virá mais facilmente. Fazer quebra-cabeças é uma prática universal e antiga, dizem estudiosos, precisamente pelo fato de depender do insight criativo, aquela centelha primitiva que acendeu as primeiras fogueiras de acampamentos. E, agora, neurocientistas modernos estão começando a buscar sua fonte.
Pesquisadores da Universidade Northwestern, em Evanston, Illinois, constataram que as pessoas têm chances maiores de resolver palavras cruzadas com insights repentinos quando estão de bom humor, tendo acabado de assistir a um esquete cômico.
A própria ideia de fazer palavras cruzadas ou quebra-cabeça Sudoku costuma levar o cérebro para um estado aberto, propício a brincadeiras, que constitui um escape agradável, cativando pessoas tão diferentes quanto Bill Clinton, viciado em quebra-cabeças, e o amnésico Henry Molaison, conhecido como H.M., cujo cérebro lesionado ansiava por palavras cruzadas.
Diferentemente dos confusos meandros sociais e profissionais da vida real, os quebra-cabeças são tranquilizadores porque são passíveis de solução. Contudo, como qualquer problema sério, é preciso mais do que mero esforço intelectual para resolvê-los.
Há quase um século, cientistas vêm usando quebra-cabeças para estudar o que chamam de pensamento em insights -os saltos de entendimento que parecem vir do nada, sem a necessidade do esforço cansativo da análise.
Em um experimento clássico, o psicólogo alemão Karl Duncker entregou a algumas pessoas uma vela, uma caixa de tachinhas e a tarefa de prender a vela a uma parede. Cerca de um quarto dos envolvidos em alguns dos experimentos tiveram a ideia de prender a caixa à parede, com as tachinhas, para servir de suporte para a vela, algumas imediatamente e outras depois de tentativas infrutíferas de prender a própria vela à parede com as tachinhas.
Pesquisadores debatem, há anos, as definições de insight e análise, e alguns questionam se as duas coisas não seriam as duas faces da mesma moeda. Mas, em uma revisão da pesquisa, os psicólogos Jonathan W. Schooler e Joseph Melcher concluíram que as habilidades mais correlacionadas à resolução de problemas "não têm correlação significativa" com a resolução de problemas analíticos.
Seja como for, o processo de resolução criativa de problemas normalmente requer tanto análise quanto insights repentinos.
É isso o que imagens de imageamento cerebral estão começando a mostrar. Mark Beeman, da Northwestern, e John Kounios, psicólogo da Universidade Drexel, em Filadélfia, gravaram imagens dos cérebros de pessoas no momento em que se preparam para encarar um quebra-cabeça, mas ainda não o viram. As pessoas cujos cérebros revelam uma assinatura particular de atividade preparatória, algo que guarda correlação estreita com estados de ânimo positivos, revelam ser as que têm probabilidade maior de resolver os quebra-cabeças com insights repentinos.
Essa assinatura inclui a ativação forte de uma área do cérebro chamada córtex cingulado anterior. Pesquisas anteriores já constataram que células desta área são ativadas quando as pessoas estreitam ou ampliam sua atenção. No processo de resolução de problemas com insights, o cérebro parece ampliar sua atenção, concretamente deixando-se mais aberto a distrações.
"Neste ponto", disse Kounios, "temos fortes evidências circunstanciais de que esse estado de descanso indica como você vai resolver problemas mais tarde."
No estudo feito sobre o humor, Beeman e seus colegas fizeram com que universitários resolvessem quebra-cabeças de associação de palavras depois de assistirem a um vídeo cômico curto. Os estudantes resolveram mais quebra-cabeças do que os resolvidos quando tinham assistido antes a um vídeo assustador ou enfadonho e o fizeram com o uso maior do insight repentino.
Esse estado cerebral difuso não é apenas um estado intelectual, aberto a conexões mais frouxas entre palavras e conceitos. Em um estudo publicado no ano passado, pesquisadores da Universidade de Toronto descobriram que as áreas visuais em pessoas que estão em estado de ânimo positivo captam mais detalhes do segundo plano, mesmo quando as pessoas são instruídas a bloquear informações que as distraiam enquanto desempenham uma tarefa no computador.
As descobertas são condizentes com dezenas de experimentos que vincularam estados de ânimo positivos com desempenho melhor na resolução criativa de problemas. "O que se depreende é que o estado de ânimo positivo desperta esse estado de atenção difusa ampla, que é tanto perceptual quanto visual", disse Anderson.


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