São Paulo, segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

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NEGÓCIOS VERDES

'Laboratório' de energia deixa entrar o sol (refletido)

Por KIRK JOHNSON

GOLDEN, Colorado - Enquanto o sol de meados de inverno se punha sobre as montanhas Rochosas em uma tarde recente, o maior edifício de escritórios de custo energético zero dos Estados Unidos estava em plena função.
Sons saíam dos alto-falantes no chão, imitando o zumbido dos sistemas convencionais de aquecimento e ar-condicionado, nenhum dos quais o edifício de escritórios de mais de 20 mil metros quadrados tem ou precisa. O "ruído branco" genérico é puramente para ter um fundo, como efeito psicológico no local de trabalho -os gerentes perceberam que os funcionários precisavam de algo mais que silêncio. Enquanto isso, o painel fotovoltaico no telhado estava recuando sob a luz que diminuía. Até as 13h35, ele havia produzido mais eletricidade do que o edifício podia usar -um superavit de três horas no orçamento de energia-, interrompido somente por volta das 12 horas pela passagem de uma formação de nuvens.
Os funcionários do edifício, que foi projetado em detalhes minuciosos para ter um consumo líquido de energia igual a zero anualmente, ainda estão se adaptando, seis meses depois que os 800 engenheiros, gerentes e pessoal do Laboratório Nacional de Energia Renovável se mudaram para o prédio de US$ 64 milhões, que o órgão federal ofereceu como modelo de construção acessível e de consumo energético supereficiente.
"É uma espécie de país das maravilhas", disse Jim Duffield, funcionário de apoio administrativo.
A maioria dos prédios é de certa forma divorciada de seu entorno. O prédio da Instalação de Apoio à Pesquisa do laboratório de energia é mais como um espelho, ou uma esponja, de seu entorno, desde as aletas nas janelas que desviam os raios de luz para o interior dos escritórios até o labirinto de concreto gigante no porão, para armazenar calor irradiado.
Em um manhã, com temperaturas máximas por volta de 18 graus, o sol se levantou às 7h12.
O computador central já estava registrando cada watt que entrava e saía, sempre procurando o equilíbrio de uso líquido zero em 24 horas -um objetivo que, segundo os gerentes, provavelmente só será alcançado no início do próximo ano, quando a terceira ala do projeto e um complexo de estacionamento forem concluídos.
Com a luz do dia, os painéis solares começaram a produzir eletricidade às 7h20 da manhã.
Conforme os funcionários começaram a chegar, o uso de eletricidade passou a aumentar. A demanda total, incluindo a previsão máxima de 65 watts por local de trabalho, atingiu o pico às 9h40.
Os edifícios comerciais usam cerca de 18% da energia dos EUA por ano, e muitos desses edifícios foram projetados quase sem se pensar em economizar energia.
A abordagem no laboratório de energia, uma unidade do Departamento de Energia dos EUA, não foi a ciência avançada. Não há um painel solar gigantesco e caro que possa esconder uma multidão de pecados nos projetos tradicionais, mas um repensamento de tudo.
A tecnologia existente, de custo e consumo energético eficientes, foi o mantra para descobrir o que os projetistas chamam de ponto ideal -a energia zero que não é complicada nem cara demais.
"Tudo é tecnologia factível", disse Jeffrey M. Baker, diretor de operações do laboratório no escritório de campo Golden do Departamento de Energia. "É um laboratório vivo."
Algumas das técnicas e truques são tão velhos quanto as grandes catedrais da Europa (a massa retém o calor como uma bateria, o que levou ao labirinto de concreto no subsolo). A luz, como sabiam os construtores desde as pirâmides, pode ser dobrada de acordo com as necessidades, com aletas que desviam os raios de sol para painéis brancos no teto, minimizando o uso de eletricidade.
Ao levar o edifício em direção à eletricidade zero em 24 horas, a iluminação foi um dos alvos. Os projetistas reduziram as paredes divisórias entre cubículos de trabalho para maximizar o fluxo de luz e a ventilação natural, o que despertou preocupações sobre privacidade entre os funcionários. Os escritórios dos gerentes não têm teto, para permitir o fluxo da luz natural refletida pelo forro.
Atingir o mais alto nível de certificação na tecnologia de construção verde por um custo razoável também exigiu uma série de decisões criativas. As colunas estruturais de aço redondas vieram de 914 metros de tubulação de gás natural -construídos para a economia da velha energia e nunca utilizados. O acabamento de madeira do saguão foi feito de pinheiros mortos por uma infestação de insetos.
Em última instância, os custos de construção foram de apenas US$ 2.600 por metro quadrado, muito abaixo do custo médio de um prédio de escritórios supereficiente, segundo a construtora. Outros componentes do projeto se baseiam na observação da natureza humana.
As pessoas imprimem menos papel quando é necessário caminhar até a sala de cópias. As pessoas também usam menos energia, segundo os gerentes, quando sabem que quantidade estão usando. Um monitor no saguão oferece informações em tempo real sobre oito medidas diferentes, incluindo as telas dos computadores.
A equipe de limpeza chega às 17h, várias horas mais cedo que na maioria dos edifícios de escritórios tradicionais, economizando o uso de iluminação.
Anthony Castellano, um web designer, disse que a imersão na consciência energética vai para casa com ele à noite. "Meus filhos estão gritando comigo porque eu desligo todas as luzes", disse.
Às 17h05, as células solares pararam de produzir. O declínio da luz solar produziu um breve pico no uso de iluminação às 17h55. Cinco minutos depois, o sistema de administração começou a desligar as luzes em um rodízio de duas horas (o computador dá um sinal para os empregados que trabalham até tarde).
A mesa de Duffield, que é cercada por plantas, tornou-se uma parada habitual nos passeios pelo prédio. Se o prédio é um experimento vivo, ele disse, então seu jardim é um experimento dentro do experimento. Os colegas de trabalho o utilizam como uma medida da saúde do prédio.
"Eles chamam isto de ralo de carbono do prédio", ele disse.
"A trepadeira tropical na minha casa para de crescer no inverno", ele explicou. "Aqui, ela continuou crescendo", por causa da luz refletida.


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