São Paulo, segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

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EUA temem dinheiro chinês

Para americanos, turbinas baratas são promessa e ameaça

Por TOM ZELLER Jr. e KEITH BRADSHER

PIPESTONE, Minnesota - Ao terminar a escalada de 20 andares por uma escada no interior de uma torre de turbina eólica, Scott Rowland abriu o alçapão no topo e revelou um panorama de terras agrícolas planas salpicadas por dezenas de outras turbinas.
Duas das mais próximas, como a torre em que ele se situava, foram construídas pela Goldwind USA, da qual Rowland é vice-presidente de engenharia. "São máquinas muito sofisticadas", ele disse.
Elas também são as únicas três turbinas de vento fabricadas na China que estão em operação nos Estados Unidos.
Isso poderá mudar quando a Goldwind e outras companhias chinesas fizerem uma grande investida no mercado de energia eólica dos Estados Unidos.
Enquanto seus proponentes dizem que a chegada de fabricantes chineses poderá criar mais empregos verdes e acelerar a adoção da energia renovável nos EUA, outros consideram uma ameaça para os trabalhadores e os lucros na ainda embrionária indústria eólica americana.
Ao entrar nos EUA, a indústria chinesa vem para o líder mundial em capacidade de energia eólica: aproximadamente 41 gigawatts, energia suficiente para abastecer 10 milhões de residências americanas. Somente a China gera mais energia eólica -43 gigawatts-, embora esta seja distribuída por uma população mais de quatro vezes maior que a americana.
Mas a produção dos Estados Unidos ainda supre uma pequena parte da demanda nacional por eletricidade -cerca de 2%-, comparada com países como Espanha, que obtém cerca de 14% de sua energia elétrica do vento.
E a morna economia americana, os baixos preços do gás natural e antigas questões sobre a política federal de energia eólica emperram essa indústria nos Estados Unidos, que hoje responde por somente cerca de 85 mil empregos.
Tudo isso poderia indicar que perspectivas sombrias aguardam a onda de fabricantes de turbinas eólicas da China. Mas as empresas chinesas podem jogar com a paciência, pois têm grande apoio de seu governo na forma de empréstimos com juros baixos e outros benefícios.
Mesmo hoje, a indústria de energia eólica dos EUA não é em absoluto totalmente americana. Depois da GE, as atuais líderes do mercado americano são Vestas, da Dinamarca, Siemens, da Alemanha, Mitsubishi, do Japão, e Suzlon, da Índia.
Nenhum dos governos desses países, porém, é suspeito de favorecer injustamente suas indústrias domésticas e discriminar contra concorrentes estrangeiras de um modo que se aproxime da escala chinesa.
A empresa de Rowland é a nova filial americana de uma empresa estatal chinesa que surgiu como quinta maior fabricante de turbinas do mundo: a Xinjiang Goldwind Science and Technology.
As turbinas eólicas feitas pelos chineses são vendidas por cerca de US$ 600 mil o megawatt, comparadas com US$ 800 mil ou mais para modelos ocidentais feitos com peças chinesas e preços ainda mais altos para máquinas europeias e americanas.
Os defensores das empresas chinesas dizem que a disponibilidade de turbinas baratas da China poderia ajudar a energia eólica americana a voltar a crescer.
Tim Rosenzweig, executivo chefe recém-empossado na Goldwind, vê paralelos com a resistência que as montadoras de carros japoneses encontraram quando estabeleceram operações no mercado americano na década de 1980.
"Em termos de um caso de estudo de economia, você definitivamente pensa nisso, e acho que as decisões sobre eventualmente situar a fabricação aqui solucionaram parte dessa equação", disse Rosenzweig. "Daí nossas metas de localizar, criar empregos e investir nos EUA -tudo isso faz parte da equação."
Rosenzweig disse que sua equipe está procurando maneiras de transferir mais trabalho para o território americano.
A Renew Energy Maintenance, uma pequena firma baseada em Brandon, Dakota do Sul, assinou um contrato com a Goldwind para cuidar da manutenção das turbinas.
James P. Mikel, diretor da Renew, disse que as empresas chinesas são as que têm dinheiro para gastar na indústria eólica americana hoje.
"Fiquei preocupado no início", disse Mikel. "Mas eu vivo aqui, e essas turbinas significam mais empregos. Daqui a cinco anos, vamos olhar para trás e nos perguntar por que nos preocupamos tanto."


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