São Paulo, segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

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Um caderninho preto do século 19

Por ALISON LEIGH COWAN

Enciclopédico em seu âmbito, mas compacto o suficiente para caber no bolso do colete de um cavalheiro do século 19, o livro era um guia de Manhattan escrito por conhecedores, algo que era fácil adquirir num quiosque de jornais antes de uma noitada na cidade.
Mas esse livro do tamanho da palma da mão, publicado em 1870 e que passou muito tempo escondido na Sociedade Histórica de Nova York, não limitava suas resenhas críticas à qualidade dos vinhos ou do ambiente dos 150 estabelecimentos descritos em suas páginas. Em vez disso, descrevia seu papel como sendo o de oferecer "uma visão do caráter e das atividades de pessoas cujos feitos são cuidadosamente escondidos das vistas públicas".
O livro, que é particularmente frágil, normalmente é mantido guardado a sete chaves. A pedido do "New York Times", porém, a sociedade histórica o expôs em fevereiro para que leitores pudessem conhecer um dos guias mais interessantes e detalhados produzidos sobre as minúcias dos prostíbulos de Nova York.
Os leitores do "The Gentleman's Directory" eram informados de que "uma hora não poderia ser passada mais agradavelmente" em outro lugar que o estabelecimento de Harry Hill, no endereço 25 East Houston Street. E descobriam que Ada Blashfield, de 55 West Houston Street, tinha "oito a dez pensionistas, tanto loiras quanto morenas", que recebiam "alguns de nossos mais ilustres cidadãos". O livro também revelava que o estabelecimento da Sra. Wright, em 61 Elizabeth Street, tinha "tudo que faz o tempo passar de modo agradável", e que a senhorita Jennie Creagh, de 17 Amity Street, não poupara "despesas nem trabalho" para criar "um palácio de eterna beleza" munido de espelhos, móveis de pau-rosa e roupas de cama de fina qualidade. A prostituição era ilegal, mas os bordéis se multiplicaram depois da Guerra Civil, operando sob os olhos da polícia.
Em seu livro de 1992 "City of Eros: New York City, Prostitution, and the Commercialization of Sex, 1790-1920", Timothy J. Gilfoyle, professor de história na Universidade Loyola, estimou o número de bordéis em Manhattan por volta de 500 no ano de 1870.
Os nove bordéis que anunciaram seus serviços no livro foram descritos como sendo "de primeira categoria".
Cavalheiros nervosos poderiam ficar tranquilos na 128 West 27th Street, onde havia um médico de plantão. Aqueles que tivessem fetiche por decoração eram aconselhados a visitar o estabelecimento de 108 West 27th Street para conhecer seus afrescos. E alguém que apreciasse uma boa conversa poderia deleitar-se com "sete lindas jovens estudiosas".
Um dos verbetes mais bizarros diz respeito à casa da 127 West 26th Street, comandada por uma certa Madame Buemont.
"Consta que um urso é mantido no porão, mas com que finalidade é algo que só pode ser inferido", diz o livro.
O sexo seguro é mencionado com delicadeza na última página do livro, em um anúncio que recomenda a quem precisasse de "seguranças masculinas francesas importadas", também conhecidas como camisinhas, que procurasse o doutor Charles Manches em qualquer horário até as 21h.


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