São Paulo, segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

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Festa reúne gays árabes em Nova York

Por CHADWICK MOORE

No andar de cima de um clube pequeno em Manhattan, por volta da meia-noite, a pista de dança, totalmente escura, ecoava com o som de pisadas rápidas e dos gritos ululantes do dabke, uma dança folclórica árabe.
Quando as luzes estroboscópicas iluminavam a cena momentaneamente, revelavam um mar de mãos erguidas. "Consigo entender muitas das conversas que estão acontecendo", disse um estudante do Instituto de Tecnologia da Moda, gritando para se fazer ouvir por cima da música e rebolando com a batida da música de dança do ventre. "Mas você não gostaria que eu traduzisse. É tudo sacanagem em árabe."
Era uma noite recente de sábado na Habibi, uma festa mensal de dança que muda de lugar periodicamente e reúne árabes lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros em Nova York.
Numa cidade que parece oferecer atividades para toda subcultura gay imaginável, a Habibi talvez seja a única oportunidade em Nova York para homossexuais originários do Oriente Médio interagirem abertamente em um ambiente organizado.
"Em Nova York, não há nenhum lugar onde eu possa vir chorar, por assim dizer", disse Amir, 27, enfermeiro saudita que vive no Brooklyn. "A Habibi é uma comunidade acolhedora."
Ultimamente, a Habibi, cuja existência nômade já dura nove anos, vem sendo promovida no Club Rush, no bairro de Chelsea. Seu fundador, Abraham, é o DJ. A multidão dança ao som de música pop do Oriente Médio.
A Habibi -o termo significa "amado" em árabe- é uma espécie de filha postiça de um grupo mais sério chamado Sociedade Gay e Lésbica Árabe.
Abraham, um ex-contador que está na casa dos 40 anos, tem a cabeça raspada e sotaque arrastado, foi um dos cofundadores da sociedade.
"Ela cresceu muito, o que nem sempre é uma coisa boa, já que tínhamos todas as nacionalidades do Oriente Médio", disse ele. Abraham é de origem síria e palestina, passou a infância no Kuait e hoje vive no bairro de Queens. Como outras pessoas entrevistadas para este artigo, ele falou sob a condição de que seu sobrenome não fosse divulgado.
Enquanto isso, os membros da Sociedade Gay e Lésbica Árabe diminuíram de número. "Acho que foi a internet que causou isso, por volta de 2004", disse Nadeem, cristão iraquiano que foi presidente da sociedade entre 2000 e 2004, quando ela parou de se reunir (mas seu site na internet continua ativo). "A razão de a Habibi fazer tanto sucesso é, em primeiro lugar, porque é um negócio, e Abraham a trata assim, e, em segundo, porque a ideia de uma festa é mais atraente para as pessoas."
Os muçulmanos gays, pelo menos tanto quanto os fiéis de outras religiões, enfrentam obstáculos para conciliar religião e sexualidade. No Centro Cultural Islâmico de Nova York, maior mesquita de Nova York e uma das mais progressistas da cidade, o imã Mohammad Shamsi Ali expôs algo que equivale a uma política de "não pergunte, não revele".
Ele disse que gays e lésbicas são bem-vindos em sua mesquita. "Mas não precisamos saber sobre sua vida sexual."
A Habibi, que já chegou a reunir 300 convidados, atrai árabes de todos os níveis sociais, fato que é ao mesmo tempo uma bênção e a fonte da discriminação contra o evento.
"Em Dubai, todo o mundo é bissexual", disse um estudante de contabilidade da Universidade Columbia em uma festa recente. Descrevendo a Habibi como "baixo nível comparado às festas com que a maioria dos árabes, pelo menos em Dubai, está acostumada", o estudante de 22 anos explicou: "Há até vendedores de rua aqui".
Na cabine do DJ, Abraham tocava um sucesso depois de outro -principalmente músicas do Egito e Líbano, mas também um pouco de pop indiano e do sul da Ásia. "Qualquer coisa que tenha batida de dança do ventre", disse ele. Entre as pessoas que estavam dançando, muitas eram homens não árabes.
"São bichas que gostam de homus", brincou um balconista de mercearia de Queens chamado Hilal. "É como chamamos os homens brancos que curtem árabes."
Alguns dos convidados ansiavam por algo além de diversão. "Há muita bagagem pós-11 de setembro que as pessoas gostariam de discutir", disse Hilal. "Mas a única opção que têm é ir ao clube e dançar."


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