São Paulo, segunda-feira, 28 de março de 2011

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Um reino imenso formado a partir de células únicas

Por CARL ZIMMER

Uma criatura unicelular chamada Capsaspora owczarzaki vive oculta no sangue de lesmas tropicais. Essa espécie tentaculada, semelhante a amebas, é tão obscura que poucos sequer tomaram nota dela até 2002. Desde então, contudo, ela entrou para o campo de atenção científica.
Descobriu-se que ela é uma das parentas mais próximas dos animais multicelulares. Nossos ancestrais de 1 bilhão de anos atrás, provavelmente, eram muito semelhantes à Capsaspora.
A aurora do reino animal, cerca de 800 milhões de anos atrás, foi uma das transformações na história da vida. Partindo de ancestrais unicelulares, os seres evoluíram, alcançando complexidade e diversidade. Hoje, cerca de 7 milhões de espécies vivem na terra, abrangendo desde invertebrados sésseis até elefantes. Seus corpos podem possuir trilhões de células que se desenvolvem, formando músculos, ossos e muitos outros tipos de tecidos.
A origem dos animais é também um dos episódios mais misteriosos da história da terra. Passar de organismo unicelular para coletivo de trilhões de células exige uma revisão genética tremenda. As espécies intermediárias estão quase extintas.
"Faltam para nós os passos intermediários", disse Nicole King, bióloga evolutiva da Universidade da Califórnia em Berkeley.
Ao lado da Capsaspora, que vive em lesmas, nossos parentes incluem coanoflagelados, criaturas semelhantes a amebas que caçam bactérias em água doce.Cientistas estão tentando descobrir de que forma um organismo unicelular como a Capsaspora ou os coanoflagelados se converteu em animal multicelular.
Pesquisadores que estão sequenciando os genes dos parentes unicelulares de animais estão descobrindo muitos genes que, até então, se pensava que existissem apenas em animais.
Iñaki Ruiz-Trillo, da Universidade de Barcelona, e seus colegas vasculharam o genoma da Capsaspora em busca de um grupo importante de genes que codificam proteínas chamadas fatores de transcrição.
Na edição atual de "Molecular Biology and Evolution", Ruiz-Trillo e seus colegas relatam que a Capsaspora possui uma série de fatores de transcrição que antes se pensava que fossem exclusivos dos animais. Por exemplo, eles identificaram na Capsaspora um gene que é quase idêntico ao gene animal brachyury. Nos humanos e em muitas outras espécies animais, o brachyury é essencial para o desenvolvimento dos embriões, marcando uma camada de células que vão tornar-se o esqueleto e os músculos.
Estudos de outros cientistas também apontam para a conclusão de que muitos dos genes que até então se considerava que fossem exclusivos do reino animal estavam presentes nos antepassados unicelulares dos animais.
King argumenta que, na transição para os animais, esses genes foram cooptados para o controle de um corpo multicelular. Genes antigos começaram a assumir funções novas, como a de produzir a cola que une células e proteger contra células que poderiam reproduzir-se demais e converter-se em tumores.
Mas os animais não se limitaram a desenvolver corpos multicelulares. Parece que eles desenvolveram novas maneiras de gerar tipos diferentes de corpos, incluindo uma molécula chamada microRNA, que atua como outro tipo de "interruptor" para controlar a atividade dos genes.
O microRNA ajudou a conferir aos animais os meios de desenvolver novas maneiras de remodelar seus embriões, de modo a produzir uma grande gama de formas -desde grandes animais predadores até animais que realizam túneis para alimentar-se na lama.


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