São Paulo, segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

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Rihanna: confiante e introspectiva

Por MELENA RYZIK

LOS ANGELES - "Aargh!" disse Rihanna, diante de um par de sapatos de cetim cor-de-rosa clarinho e salto agulha. No mundo dela, esse é um elogio. "Geralmente digo 'doentio' ou 'quero vomitar em cima disso'", ela explicou. "Mas 'aargh' é o pior", ou seja, o melhor. "Aargh é [nota] dez de um total de dez."
Em um espaço simples de ensaios perto do aeroporto de Burbank (Califórnia), a estrela de R&B Rihanna escolhia os figurinos para suas semanas seguintes de apresentações. O look em seus shows foi "sexy-durona". O slogan de suas letras, disse ela, é "I'm such a freaking lady" (algo como "sou tão mulher") -a versão sem palavrão.
No final de uma passagem por seu set, ela ergueu os braços e pôs a língua para fora -um momento raro que nos fez lembrar que o fenômeno ao centro de toda essa atividade tem apenas 21 anos. "Rated R" é seu quarto álbum e, sob alguns aspectos, o mais arriscado. É mais um passo na evolução de uma persona que, como dizia o título ("Good Girl Gone Bad") de seu álbum multiplatina de 2007, é de uma "garota boazinha que virou malcomportada".
É também, disse ela, seu álbum mais pessoal, uma resposta a seu rompimento com o cantor Chris Brown, que a agrediu em um carro em fevereiro. Chris Brown se confessou culpado e foi sentenciado a cinco anos de liberdade condicional, seis meses de serviço comunitário e um ano de terapia.
Horrorizada pela atenção suscitada pelo incidente, Rihanna se afastou do olhar público durante meses. Mas, embora relute em virar símbolo da sobrevivência à violência doméstica, insiste em que a experiência a ajudou a fazer algo que descreveu como "o álbum de uma vida".
Ou seja, a converter uma experiência negativa em algo positivo. "Por mais traumático e apavorante que tenha sido", disse ela. "E às vezes eu me pego desejando que isso nunca tivesse acontecido. Minha vida inteira mudou incrivelmente depois [do episódio].
Se eu não tivesse passado por aquilo, juro que você estaria entrevistando uma pessoa completamente diferente."
É um momento estranho para ser Robyn Rihanna Fenty (seus familiares e amigos íntimos ainda a chamam de Robyn). "Good Girl Gone Bad" gerou vários singles de sucesso, incluindo "Don't Stop the Music" e o duradouro "Umbrella", premiado com um Grammy.
O gosto de Rihanna por visuais próprios para passarelas fez dela uma queridinha do mundo fashion; seu penteado, cabelo curto com franja punk, foi batizado com seu nome.
Aos 20 anos de idade, Rihanna já tinha alcançado o sucesso com o qual sonhava quando era criança em Saint Michael, Barbados, onde começou a cantar em shows de família aos seis anos de idade. Ela deixou Barbados aos 16 para ser cantora nos EUA.
"No início, tudo era um pouco mais manufaturado", disse após o ensaio. "Tinha que ser seguro, e, para ser seguro, tinha que ser feito antes, coisa que não fazia sentido para mim."
Pouco a pouco ela abandonou a imagem de cantora adolescente ousada, em favor de algo mais sensual e menos convencional. Essa estética é visível em "Rated R", que tem ritmo mais encorpado, letras soturnas e um som carregado de baixo que Rihanna descreveu como "bem mais encardido".
L.A. Reid, presidente da Def Jam Records e produtor-executivo do álbum, disse que Rihanna sempre sentiu confiança em seu próprio ponto de vista. "Ela não está interessada em ser consensual, não está pensando na opinião dos presentes", explicou. "As pessoas que trabalham com Rihanna fazem o que ela quer."
Quando Rihanna voltou ao estúdio, dois meses após a agressão, ela se negava a falar sobre o assunto. "Todo o mundo queria que eu procurasse uma terapia, mas eu não quis", disse ela.
"Em Barbados, guardamos as coisas em família e descobrimos uma maneira de seguir adiante. Mas, lá no fundo, eu tinha algumas coisas a superar, e isso apareceu na minha música."


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