São Paulo, segunda-feira, 29 de março de 2010

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LENTE

Limites da dependência são alvo de debates

"Você retira a negação e a racionalização e chega à verdade", disse Tiger Woods a um entrevistador, dias depois de anunciar que voltaria ao golfe para disputar o torneio Masters, em abril.
Em uma declaração anterior relativa a suas infidelidades conjugais, ele pedira desculpas a quem magoou e admitira sua incapacidade de gerir a própria vida, além da disposição de buscar ajuda de uma força superior -no caso, por meio do credo budista da sua mãe.
Era, como notou o "New York Times", a clássica linguagem do programa de 12 passos, desenvolvido pelos Alcoólicos Anônimos e adotado por outros grupos que lutam contra todo tipo de dependência -de comida a compras e até a videntes.
Mas, às vezes, como no caso do sexo, a noção de dependência está aberta a debates. Conforme escreveu Donald G. McNeil Jr. no "Times", "a própria ideia de que alguém pode ser viciado em sexo é polêmica e inevitavelmente leva a risos e piadas. Quem se diz dependente pode ser acusado de buscar um pretexto médico para a simples promiscuidade".
McNeil lembrou também que o manual da Associação Psiquiátrica Americana não reconhece ainda a dependência sexual.
Mas Robert Weiss, diretor dos serviços de integridade sexual do CRC Health Group, disse ao "Times" que considerou "animador" ver o ator David Duchovny falar publicamente sobre seu tratamento contra a dependência sexual em 2008.
O vício em internet gera dúvidas semelhantes. Conforme noticiou o "Times", muitos acham que o uso obsessivo da web não devasta famílias da mesma forma que dependências convencionalmente reconhecidas.
Mas Rick Zehr, vice-presidente para ciências comportamentais e do vício do Hospital Proctor, em Peoria (Illinois), disse ao "Times" que "o limite é traçado com relação à dependência da internet quando não sou mais capaz de controlar meu uso da web -ela que está me controlando". Outros especialistas buscam sinais de que a rede esteja contribuindo com uma depressão e com dificuldades profissionais ou conjugais.
Enquanto isso, há um programa de 12 passos para dependentes de videogames e um grupo de apoio para "viciados em videntes". A fundadora desse grupo, a atriz Sarah Lassez, disse que vinha gastando mais de US$ 1.000 por mês em sites de adivinhos.
"Eu nunca considerei que tivesse uma personalidade propensa a dependências", disse ela ao "Times". "Mas [consultar videntes] literalmente me dava um barato."
Especialistas concordam que, dada a natureza penetrante do ciberespaço, é difícil romper com comportamentos destrutivos na internet. Uma reportagem do "Times" chegou a comparar isso a tratar "um alcoólatra em uma cervejaria". Só que o conceito dos 12 passos já provou que pode contrariar expectativas.
Na verdade, numa era de reality shows como "Celebrity Rehab With Dr. Drew" ("Reabilitação das celebridades com o dr. Drew"), qualquer um pode se sentir sobrecarregado por tantos "12 passos". A alternativa, no entanto, não é atraente.
No Camboja e na China, viciados são trancados em centros para drogados, onde enfrentam surras e trabalhos forçados, sem tratamento para a dependência.
Fu Lixin, que alega ter fumado uma só vez um cigarro "batizado" com metanfetamina, foi encarcerada durante anos na China. "Foi um inferno do qual ainda estou tentando me recuperar", contou ela ao "Times".
KEVIN DELANEY


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