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São Paulo, segunda-feira, 29 de março de 2010

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"Garotas do shopping" preocupam Polônia

Por DAN BILEFSKY

VARSÓVIA - Elas passam horas no shopping, vendendo seus corpos adolescentes em troca de jeans de grife, celulares ou até um par de meias.
A jovem cineasta Katarzyna Roslaniec viu pela primeira vez há três anos um grupo de "meninas do shopping", metidas em botas de látex até a coxa. Seguiu-as e conversou com elas. Nos seis meses seguintes, as adolescentes lhe contaram sobre suas vidas, sobre os homens -que chamam de "patrocinadores"-, sobre seu apreço por marcas caras, os pais ausentes, as gestações prematuras, os sonhos perdidos.
Roslaniec, 29, anotava os segredos em seu bloco, memorizando o jeito que elas temperavam sua fala com palavras como "fijer" ("derrotado"). Fofocou com elas na internet. Logo, contou, estava em contato com dezenas de "meninas do shopping".
O resultado é um filme de ficção sombriamente devastador, "Galerianki", que estreou no segundo semestre de 2009 na Polônia e gerou um debate sobre a decadência moral nesse país conservador e predominantemente católico, 20 anos após a queda do comunismo.
É difícil quantificar quantas "meninas do shopping" existem de fato, já que elas não se identificam como trabalhadoras do sexo e chamam seus clientes de "namorados" ou "benfeitores", mantendo a ilusão de que não são prostitutas. Mas assistentes sociais dizem que o fenômeno está crescendo, como efeito colateral da colisão da cultura consumista ocidental com a economia pós-comunista do Leste Europeu.
"Galerianki" narra a história de quatro adolescentes que fazem programas nos banheiros dos shoppings para sustentar seu vício em roupas. Virou tão "cult" que pais de toda a Polônia estão confiscando DVDs do filme, temendo que ele vire um manual de instruções.
A revelação de que meninas católicas, algumas de classe média, estão se prostituindo por uma echarpe Chanel ou um jantar japonês leva muitos no país a questionar se o materialismo não estaria poluindo a alma nacional.
Numa recente noite na Space, danceteria frequentada pelas "garotas do shopping", dezenas de adolescentes em roupas pretas e justas giravam ao som de um hip-hop polonês, acompanhadas por homens bem mais velhos, que lhes pagavam drinques de US$ 13. "A vida é cara em Varsóvia", disse Sylwia, 18, enquanto acariciava a perna de um homem de 31, que ela acabara de conhecer.
Roslaniec chama as "meninas do shopping" de filhas do capitalismo. "Os pais raramente estão em casa. Uma menina de 14 anos precisa de um sistema de valores que não pode ser moldado sem a orientação dos pais. O resultado é que elas vivem em um mundo onde não há emoções, apenas cálculos frios."


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