São Paulo, segunda-feira, 29 de novembro de 2010

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TENDÊNCIAS MUNDIAIS

Irlandeses saem do país de novo

Os melhores talentos estão rumando para o exterior

Por SUZANNE DALEY

DUBLIN - Há apenas três anos, quando a economia da Irlanda crescia, os imigrantes chegavam tão depressa que especialistas disseram que o pequeno país de 4,5 milhões de habitantes estava perto de atingir níveis populacionais vistos somente antes da grande "fome da batata" em meados do século 19.
A situação se inverteu abruptamente. Enquanto o país luta com sua nova crise financeira, e o governo aceita um pacote de socorro da União Europeia e do Fundo Monetário Internacional que provavelmente será maior que US$ 100 bilhões, a Irlanda parece destinada a ver mais uma geração se espalhar pelo mundo. Muitos estão rumando para a Austrália, onde um boom de mineração produziu empregos na construção na região oeste do país. Mas outros vão para o Canadá, a Nova Zelândia, os Estados Unidos, a Grã-Bretanha, o Oriente Médio e a Ásia.
"As coisas mudaram em pouco tempo", disse Edgar Morgenroth, um economista do Instituto de Pesquisas Econômicas e Sociais em Dublin. "E, se você não quiser partir, pode ser muito doloroso."
A economia irlandesa encolheu 7,1% no ano passado e continua em recessão. Especialistas dizem que cerca de 65 mil pessoas deixaram o país no ano passado e estimam que o número poderá chegar a 120 mil este ano.
Sinais da recessão estão por toda parte. A principal área comercial de Dublin está cheia de placas de imóveis para alugar e cartazes feitos à mão em vitrines anunciam liquidações de um dia.
Alguns dos que emigram estão desesperados por um contracheque. Outros estão decepcionados por seu país se encontrar em tal situação e temem que precisem pagar durante anos, com maiores impostos e cortes nos salários, por uma confusão que não criaram.
Orla Neary e Joseph Rice decidiram mudar-se para a Austrália quando perceberam que poderá levar anos para que consigam ter sua casa própria.
Rice, 25, estuda para ser eletricista, mas teria dificuldades para conseguir sua licença aqui -há tão poucos empregos que ele não consegue trabalhar as horas necessárias. Seu irmão ganhou prêmios como eletricista, mas nem ele consegue encontrar trabalho, disse Rice.
Neary, 22, acaba de terminar um curso de parteira. Mas, por causa das medidas de austeridade, o sistema nacional de saúde, provavelmente, não vai contratar ninguém em breve.
"As coisas aqui não estão indo para lugar nenhum", disse Rice recentemente. "Este lugar está simplesmente emperrado."
As últimas medidas para reforçar a economia seguem duras diretrizes de austeridade do governo. Os impostos foram elevados e os salários cortados para enfermeiras, professores e outros funcionários públicos em até 20%. Em novembro, o governo anunciou que será preciso cortar mais US$ 6 bilhões do orçamento para o próximo ano.
Alguns economistas afirmam que a emigração pode ser uma válvula de segurança em tempos difíceis, reduzindo o número de desempregados e evitando os efeitos debilitantes do desemprego em longo prazo.
Mas há riscos de que os melhores e mais inteligentes da Irlanda -as próprias pessoas que poderiam ajudar a reverter as coisas- estejam partindo.
Os irlandeses emigraram com tanta frequência que quase todos têm parentes em vários países. "Migrar é norma cultural, mesmo que não seja preferência cultural", disse Brian Lucey, professor de economia no Trinity College em Dublin. "Os irlandeses sabem como fazer. Eles constroem redes e cuidam uns dos outros."
Antoinette Shields, cujo filho Kevin se formou na universidade e pretende emigrar para os Estados Unidos ou o Canadá no ano que vem, disse que ela se conforma pelo fato de que a imigração hoje não é a longa separação que costumava ser.
"Não é como quando dávamos adeus do porto", disse Shields. "Há muitas maneiras de manter contato -Google, Facebook... Muitas mães aqui estão aprendendo muito sobre computadores hoje em dia."


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