São Paulo, segunda-feira, 29 de novembro de 2010

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As mulheres sauditas não competem no esporte

Por KATHERINE ZOEPF
Quando a cavaleira olímpica saudita Dalma Malhas, de 18 anos, ganhou uma medalha de bronze em saltos ornamentais na primeira Olimpíada da Juventude em Cingapura, ocorrida em agosto, ela foi elogiada por Jacques Rogge, presidente do Comitê Olímpico Internacional.
"Esta é, de fato, a primeira vez em que uma atleta saudita participa de um evento internacional", o que dirá receber uma medalha, disse Rogge. Mas a reação no país muçulmano de Malhas vem sendo mais complicada.
A medalha levou a atleta ao centro de uma polêmica em torno de quais tipos de atividade atlética são aceitáveis para meninas e mulheres sauditas, se algum tipo for aceitável. As leis e os costumes que regem as vidas das sauditas estão entre as mais restringentes do mundo.
A separação entre homens e mulheres em locais públicos é rígida. Nas escolas femininas públicas da Arábia Saudita, as meninas são proibidas de praticar exercício físico, e mulheres não podem representar seu país em competições esportivas internacionais. Filha de uma cavaleira especializada em saltos ornamentais, Arwa Mutabagani, Dalma Malhas precisou custear suas próprias despesas olímpicas.
Em 31 de julho, o dissidente saudita Ali al Ahmed, diretor do Instituto para Assuntos do Golfo, lançou a campanha "No Women. No Play" (sem mulheres, sem jogo), exortando o COI a impedir a Arábia Saudita de competir nas Olimpíadas enquanto não autorizar a participação feminina.
Ahmed comparou a posição das mulheres sauditas à dos negros na África do Sul na era do apartheid, indagando por que o COI não suspendeu a Arábia Saudita de participar de Jogos Olímpicos, como fez com a África do Sul de 1964 até o fim do apartheid, no início dos anos 1990.
A carta olímpica afirma que "a prática do esporte é um direito humano" e que "discriminação contra um país ou uma pessoa com base em raça, religião, política, gênero ou outra é incompatível com a participação no movimento olímpico". Mas uma porta-voz do COI, Emmanuelle Moreau, indicou em e-mail que o COI não pretende censurar formalmente os países que não permitam a participação de mulheres nas Olimpíadas. "O COI busca assegurar que os Jogos Olímpicos e o movimento olímpico sejam universais e não discriminatórios", disse Moreau.
Fora das equipes olímpicas percebem-se alguns sinais de mudanças para as esportistas sauditas. Alguns times femininos particulares de basquete e futebol surgiram nas maiores cidades do país. Em 2008, Arwa Mutabagani tornou-se membro do conselho da Federação de Equitação da Arábia Saudita.
Lina al-Maeena, que, em 2003, fundou o Jeddah United -time de basquete feminino que cresceu e se tornou uma empresa de treinamento e administração esportiva-, espera que a pressão do COI possa ajudar a romper as barreiras à participação esportiva das mulheres.
"Em última análise, a carta olímpica diz que não haverá discriminação com base em gênero, religião ou etnia", disse. "E a Arábia Saudita não está cumprindo o exposto na carta olímpica."
Maeena disse que um olhar para os movimentos feministas globais a ajuda a conservar o otimismo. "Até a lei de 1972", disse, "as mulheres nos EUA não tinham igualdade de direitos nos esportes. E isso foi há três décadas apenas e em um país de 250 anos de idade. Nosso país tem apenas 78 anos."


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