São Paulo, segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

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Cumbustível movido a sujeira pode levar mais luz à África

Por CATE DOTY

Empresas em todo o mundo vêm a África -onde 74% da população vive sem eletricidade- como um bom mercado para testar novas tecnologias de iluminação que independam de ligação com uma grade elétrica.
Muitos desses esforços envolvem energia eólica ou solar. Mas um grupo em Cambridge, Massachusetts (EUA), está trabalhando para desenvolver células de combustível feitas com as bactérias que existem no solo ou em detritos.
"É possível literalmente produzir energia a partir de sujeira", disse Aviva Presser, estudante de pós-graduação da Escola Harvard de Engenharia e Ciências Aplicadas. "E sujeira é algo que existe em abundância na África."
Presser é uma das fundadoras da Lebone Solutions, que está sendo financiada com US$ 200 mil do Banco Mundial e por investimentos privados. A idéia da Lebone é uma célula de combustível microbiana -pilha que produz uma pequena quantidade de energia a partir de materiais como esterco, tecido de grafite e solo, coisas comuns em casas africanas.
Mas a Lebone -o nome significa "galho leve" na língua sotho- não quer apenas produzir as pilhas e vendê-las a consumidores africanos. O grupo espera que, com o tempo, cada família possa ser capaz de construir uma pilha a um custo não superior a US$ 15.
"Os africanos são muito criativos", disse Hugo Van Vuuren, um dos fundadores da Lebone. "É algo muito empreendedor, mas não da maneira como costumamos definir o que é empreendedor."
As bactérias presentes numa célula de combustível microbiana produzem elétrons enquanto fazem o que costumam fazer: metabolizar detritos orgânicos como capim, folhas mortas ou composto, para convertê-los em energia. Os elétrons então se fixam a um eletrodo, como um pedaço de grafite, e a reação química que ocorre a seguir gera uma pequena carga elétrica, suficiente para ligar uma lâmpada pequena ou um telefone celular.
"Ela pode ser construída por pessoas que têm um mínimo de treinamento", disse Presser. "Não requer nenhum investimento maciço." Os fundadores da Lebone levaram a tecnologia a Leguruki, um povoado na Tanzânia, para verificar o uso das pilhas em residências.
Durante três horas cada noite, seis famílias usaram pilhas feitas de esterco, tecido de grafite, baldes e um fio de cobre para conduzir a corrente a uma chapa de circuito.
"As pessoas caminham uma hora ou mais por dia até as escolas locais para ter seus celulares carregados para dois ou três dias", disse ele, observando que, além de serem usados para a comunicação, os telefones são fontes de luz. As pilhas também são usadas para mover rádios, disse Van Vuuren. Na África, o rádio é um meio de comunicação tão importante quanto o celular.
"Idealmente, as pessoas gostariam de ter geladeiras", disse Van Vuuren. "Neste momento, porém, sua necessidade chave é o celular."


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