São Paulo, segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

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Centro de meditação oferta paz interior para punks e afins

Por CARA BUCLKEY

Toda semana no Bowery, bairro no sul de Manhattan, dezenas de pessoas, geralmente jovens com ar "artístico" e mal vestidos, sobem três lances de escadas rangentes num prédio nesse trecho antigamente malvisto, a um quarteirão de onde ficava o CBGB, famoso centro de punks. Muitas vezes vestindo blusões com capuz, ostentando tatuagens e piercings, eles parecem prontos para um show de rock e talvez um pouco de álcool ou drogas. Mas em um salão com iluminação suave, de onde se escuta o rugido do tráfego, eles encontram um lugar no chão, fecham os olhos e respiram profundamente.
Chamada Dharma Punx, a reunião faz parte de uma rede nacional de meditação baseada no budismo.
"Muito bem, a aula de hoje é sobre como perdoar pessoas impossíveis de serem perdoadas", disse em uma sessão recente Josh Korda, líder do grupo em Nova York. "Então isso é bom para vocês que já sentiram raiva de alguém na vida. Se não sentiram, apenas escutem."
Korda fica ajoelhado à frente do grupo. Atrás dele está uma pequena estátua branca de um Buda sentado -com cabelo moicano. É uma combinação curiosa; o movimento punk geralmente é visto como uma forma de agressão, enquanto o budismo prega o perdão. Mas Korda e seu amigo Noah Levine, que iniciaram o Dharma Punx, dizem que os dois movimentos estão enraizados na insatisfação com o modo como as coisas são, o desejo de viver no presente e uma sede de paz mental.
Korda, que tem 48 anos e é tatuado dos dedos ao maxilar, começou a liderar as reuniões do Dharma Punx há três anos. Os participantes geralmente têm de 20 a 30 e poucos anos -jovens em comparação com muitos grupos de meditação.
Korda usa livremente palavrões e faz referências freqüentes a suas bandas favoritas, como a Suicidal Tendencies ou os Cro-Mags, grupos "hard-core". Os freqüentadores do Dharma Punx gostam do fato de não haver pregação nem proselitismo, cantos ou menções a dogmas.
"Não suporto aulas de meditação em que cobram US$ 10 para entrar -e também não gosto de velas", disse Harper Jackson, que trabalha em uma casa de leilões e mora em Manhattan. Segundo ele, as sessões "não têm drama, e posso pagar o que eu quiser".
O Dharma Punx começou com Levine, 37, cujo livro de 2003, também chamado "Dharma Punx", conta sua recuperação do vício em heroína, crack e álcool graças à meditação budista. Levine começou a meditar aos 17 anos, quando esteve em um centro de detenção juvenil na Califórnia por ter roubado para sustentar seu vício.
"Apesar de eu estar na cadeia, era melhor do que o medo que eu tinha do futuro ou as correntes com o passado", disse Levine, que vive em Los Angeles. "Essa consciência foi uma libertação para mim."
Muitas pessoas dizem que a aula é uma fuga da competitividade crônica de Nova York. Lexi Salkin, uma cabeleireira e artista de 26 anos que vive no Brooklyn, disse que ficou intrigada com a mensagem de Korda de que "não há uma quantidade finita de felicidade no mundo". "O fato de alguém estar se saindo bem não quer dizer que você esteja pior ou que algo esteja sendo tirado de você", ela disse.


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