São Paulo, segunda-feira, 30 de agosto de 2010

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Alces subnutridos dão pistas sobre a artrite

Por PAM BELLUCK

Pesquisas dos últimos 50 anos revelaram que a nutrição deficiente no início da vida causou artrite em mais de 50% dos alces estudados ao norte dos EUA. Coletando ossos de mais de 4.000 alces, pesquisadores descobriram que, de 1.200 carcaças estudadas, mais da metade apresentava artrite virtualmente idêntica à artrite humana.
De acordo com os cientistas, isso pode significar que a artrite de algumas pessoas também pode estar vinculada em parte a deficit nutricionais na fase "in utero" e, possivelmente, ao longo da infância.
A conclusão reforça um conjunto crescente de estudos que vincula o desenvolvimento primordial a condições crônicas como a osteoartrite, que hoje afeta 27 milhões de americanos, um aumento em relação aos 21 milhões afetados em 1990.
A causa exata da osteoartrite ainda é desconhecida, mas acredita-se, de modo geral, que se deva ao envelhecimento e ao desgaste das articulações, exacerbados, no caso de alguns, por causas genéticas.
As pessoas obesas ou com sobrepeso correm risco maior de sofrer de artrite, geralmente atribuída ao peso que suas articulações suportam, e o número de casos vem subindo à medida que as pessoas vivem mais tempo e pesam mais.
Mas os estudos feitos com alces na ilha Royale, no lago Superior, somados a pesquisas com humanos, sugerem que as origens da artrite sejam mais complexas, sendo provavelmente afetadas pela exposição precoce a nutrientes e outros fatores na fase em que nossos corpos estão se desenvolvendo.
Mesmo o vínculo entre obesidade e artrite provavelmente vai além da questão do peso adicional, dizem especialistas, incluindo o consumo de alimentos errados.
Para os especialistas, os nutrientes podem influenciar a composição ou forma de ossos, articulações e cartilagens. A nutrição pode também afetar os hormônios, a probabilidade de inflamações ou estresse oxidativo posteriores e até mesmo a maneira como a predisposição genética para a artrite é expressa ou suprimida.
"A osteoartrite começa muito antes de a pessoa ter consciência dela, antes de seus joelhos ou mãos começarem a doer", disse Joanne Jordan, diretora de pesquisas de artrite da Universidade da Carolina do Norte. "Está claro que vamos ter que começar a olhar para o passado, para coisas que ocorreram no início da vida."
Essas pesquisas podem levar à definição de medidas nutricionais que as pessoas poderiam tomar para se proteger contra a osteoartrite, condição frequentemente dolorosa ou debilitante e que custa bilhões de dólares anuais apenas em cirurgias de joelhos e bacia.
"Seria útil saber se é o caso de nos assegurarmos de que gestantes tomem vitaminas", disse David Felson, especialista em artrite. "O sujeito dos alces tem razão quando diz que provavelmente deveríamos estudar o peso ou outro fator nutricional quase até a adolescência, quando ossos e articulações terminam de se formar."
O "sujeito dos alces" é Rolf Peterson, cientista da Universidade Tecnológica do Michigan que trabalha no projeto da ilha Royale, iniciado em 1958. Durante metade do ano, Peterson e seus colegas são os únicos humanos autorizados a ficar na ilha de 72 km de comprimento, que faz parte de um parque nacional.
Os alces artríticos frequentemente são pequenos, conforme medidos pelo comprimento do osso metatarso, na pata. Metatarsos pequenos indicam nutrição deficiente na infância, e cientistas determinaram que os alces artríticos nasceram em épocas em que os alimentos eram escassos, de modo que suas mães não puderam produzir leite suficiente.
Peterson disse que, se a artrite fosse causada pelo desgaste das articulações dos alces, isso teria significado que as épocas de escassez alimentar teriam ocorrido quando os alces já eram adultos. Mas os alces artríticos tinham tido acesso a comida em abundância quando adultos.
Estudar a nutrição em humanos é muito mais complexo. Peterson disse que a janela de desenvolvimento primordial dos alces ocorre "in utero" ao longo de 28 meses, mas que a fase de desenvolvimento dos humanos dura até a adolescência. Alguns especialistas consideram que a nutrição pré-natal é a mais crítica; outros falam da importância dos nutrientes após o nascimento e na infância.
"Até que as placas de crescimento se fechem, na adolescência e no início da idade adulta, os efeitos da nutrição são intensificados", disse Constance R. Chu, diretora do Centro de Restauração de Cartilagem da Universidade de Pittsburgh.
Para ela, os nutrientes podem afetar o número de células saudáveis presentes nas cartilagens, além da espessura destas. "Na minha opinião, porém, a nutrição é importante ao longo da vida inteira", acrescentou.


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