São Paulo, segunda-feira, 30 de agosto de 2010

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AMERICANAS

Nascar sente efeitos da má fase econômica dos EUA

Por KEN BELSON e DAVE CALDWELL

Após anos de corridas com arquibancadas lotadas, audiência de TV nas alturas e vendas recordes de merchandising, o público das corridas da Nascar, a stock car americana, diminuiu neste ano, à medida que os fãs afetados pela recessão nos EUA continuam a cortar seus gastos.
Outras ligas esportivas foram prejudicadas nos últimos dois anos. Mas a Nascar -com sua dependência maior de torcedores de classe trabalhadora, combustíveis a preços baixos e da indústria automotiva, que se encontra em mau estado- vem sofrendo desproporcionalmente, dizem executivos do automobilismo.
A audiência, as vendas de produtos licenciados e os patrocínios, cruciais para o esporte, também foram prejudicados.
Os executivos dizem que a própria Nascar agravou o problema ao mudar as regras do esporte de maneiras que deixaram as corridas mais seguras, mas as privaram de parte de sua espontaneidade.
Sob pressão, a Nascar reverteu algumas dessas mudanças. Mas a pergunta maior é se, nos próximos anos, o esporte voltará à glória que desfrutou no início da década de 2000, como fonte de renda gigante, barômetro dos gostos dos americanos médios e fator de liderança política.
"Muitos esportes perdem seu ímpeto. Podem consegui-lo de volta, mas isso requer muito trabalho", disse H. A. Wheeler, ex-presidente da Lowe's Motor Speedway, na Carolina do Norte.
Para atrair os fãs de volta, os donos de pistas vêm reduzindo os preços de ingressos e trabalhando com hotéis para que estes eliminem as exigências de estadia mínima e acrescentem opções de alimentação. A Nascar criou um conselho de fãs, com 12 mil membros, que é consultado regularmente.
Agora as corridas começam às 13h dos domingos, para que os fãs possam ir à igreja sem perder a ação. Estão sendo discutidas maneiras de encurtar as corridas.
A Nascar exigiu que os pilotos colocassem os defletores de volta em seus carros, para melhorar as corridas e fazer os veículos parecerem stock cars mais antigos; aprovou normas para incentivar os pilotos a correr mais colados aos outros carros e exortou-os a expressar suas opiniões, visando intensificar as rivalidades.
"Deixamos claro que queremos que os pilotos expressem sua personalidade", disse Andrew Giangola, diretor de comunicação empresarial da Nascar. "Estamos competindo contra a Disney e os parques de diversões locais."
Muitos dos envolvidos dizem que essas mudanças ajudaram a revitalizar as corridas. Mas a emoção renovada nas pistas ainda não se traduziu plenamente em audiências maiores.
O público de 16 das primeiras 22 provas desta temporada foi menor que no ano passado. Cerca de 140 mil fãs assistiram ao Brickyard 400 em Indianápolis, Indiana, neste ano, mais ou menos a metade do número de 2007.
Na Geórgia, a Atlanta Motor Speedway disse que vai eliminar 1 de suas 2 provas da Sprint Cup no ano que vem, na primeira modificação da programação da Nascar. O objetivo é tentar aumentar o público.
A Nascar também avalia modificações para intensificar o drama do Chase for the Sprint Cup, as dez corridas no final da temporada que definem o vencedor da série.
A audiência de TV dos eventos da Nascar também caiu. Em fevereiro, 13,3 milhões de espectadores assistiram ao Daytona 500, contra 15,9 milhões no ano passado. A audiência do Brickyard 400 caiu 12%.
"As corridas têm sido fantásticas neste ano, mais competitivas", disse John Wildhack, vice-presidente-executivo da ESPN. Mas, ressaltou, "levará tempo para as modificações surtirem efeito".
A cobertura televisiva nacional dos eventos da Nascar levantou bilhões de dólares e levou o esporte ao conhecimento do grande público, mas também ofereceu aos fãs mais uma razão para não assistir às corridas pessoalmente, evitando gastos maiores.
"Por que pagar para assistir na arquibancada quando você pode ver tudo na TV?", explicou Tom Hayes, de Torrington, Connecticut.
A Nascar ainda é uma gigante. As corridas frequentemente atraem mais de 100 mil espectadores, e a audiência do esporte na TV perde apenas para a do futebol americano.
Mas é possível que o tempo do dinheiro fácil tenha ficado no passado. O quatro vezes campeão Jeff Gordon não tem um patrocinador em tempo integral para 2011. Kevin Harvick, que lidera esta temporada, também não tem um patrocinador principal para 2011.
Na pista Pocono Raceway, em Long Pond, Pensilvânia, a espectadora Susan Behler disse: "Três anos atrás, eu costumava gastar US$ 200 ou US$ 300 cada vez que vinha aqui. Agora tenho que me perguntar: 'Será que preciso disso?'".
No ano passado foram vendidos produtos Nascar no valor de cerca de US$ 1 bilhão, 23% abaixo do pico de 2006.
"Uma vez que as pessoas mudam seus hábitos, é difícil fazer com que voltem a gastar", disse Richard Petty, um dos corredores mais famosos da Nascar. "Estamos todos aqui, tentando pensar o que fazer. Mas acho que não sabemos quais são as respostas."


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