São Paulo, segunda-feira, 30 de agosto de 2010

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Remédios e direção podem formar uma combinação letal

Drogas podem ser legais, mas como definir limites ao uso?

Por ABBY GOODNOUGH e KATIE ZEZIMA

O uso de medicamentos receitados por médicos é amplo e generalizado nos EUA. E, diferentemente do que acontece com o álcool, não existe um consenso quanto ao nível de remédios no sangue que prejudica a condução de veículos. A questão preocupa a polícia.
Os efeitos comportamentais de remédios variam muito, dependendo do medicamento e da pessoa que o toma.
Alguns medicamentos podem prejudicar a atenção e o tempo de reação; outros podem incentivar comportamentos de risco e prejudicar a capacidade de avaliar distâncias. Pesquisadores dizem que misturar remédios ou tomá-los com álcool ou drogas ilícitas pode exacerbar os efeitos.
A polícia também enfrenta a dificuldade de processar uma pessoa que esteja tomando medicamentos receitados.
"Como encontrar o ponto de equilíbrio entre as pessoas que precisam legitimamente de seus remédios receitados, por um lado, e, por outro, a proteção do público?", indagou Mark Neil, advogado sênior do Centro de Direito do Trânsito dos EUA.
É complicado impor limites a medicamentos tomados sob receita, em parte porque a química dos remédios torna seus efeitos mais difíceis de prever que os do álcool. Alguns medicamentos podem permanecer no corpo por dias ou semanas.
"Temos uma mensagem clara de que é proibido beber e dirigir", disse R. Gil Kerlikowske, assessor do presidente Barack Obama para questões ligadas a medicamentos. "Precisamos seriamente ter uma mensagem semelhante com relação a medicamentos."
Autoridades dizem que o problema está aumentando em ritmo tão acelerado que os Estados estão treinando centenas de policiais para identificar sinais de efeitos negativos de medicamentos e pedindo tecnologia melhor para detectar esses casos.
A incidência de pessoas que dirigem com suas reações afetadas por medicamentos é desconhecida, porque muitos Estados combinam os dados de prisões com os de motoristas que dirigem sob o efeito de álcool.
Kerlikowske aponta a uma pesquisa conduzida em 2007 pela Administração Nacional de Segurança do Tráfego Rodoviário, que testou 5.900 motoristas em todo os EUA e constatou que 16,3% tiveram resultado positivo nos exames para detectar o uso de drogas legais ou ilegais.
"Não queremos assustar as pessoas", disse Kerlikowske, mas sim que tenham consciência do perigo. "Conduzir veículos sob o efeito de medicamentos receitados pode ter efeitos tão letais quanto conduzir com teor de álcool no sangue acima do limite permitido, e você é responsável por seus atos."
Autoridades policiais dizem que qualquer pessoa que dirija medicada corre o risco de ser presa, e não só quem dirige perigosamente.
Em abril de 2008, no Wisconsin, um ex-médico bateu seu carro contra um Honda Accord, matando a motorista deste, que estava grávida, e sua filha de dez anos. Promotores disseram que o ex-médico tinha altos níveis do sonífero Ambien em seu organismo, além de Xanax, um ansiolítico, e oxicodona, um analgésico opiáceo. Ele foi sentenciado a 30 anos de prisão.
Promotores disseram que os réus podem tentar provar que não sabiam que seus medicamentos afetariam o modo como dirigem, mas esse argumento pode não ser levado em conta se a embalagem do medicamento possuir um aviso.
"Você iria para casa, ligaria uma serra elétrica e derrubaria uma árvore?", perguntou o tenente-coronel Thomas C. Hejl, xerife em Maryland. "Por que deveria conduzir um veículo se a mesma medicação tem os mesmos efeitos colaterais?"
Nos casos de direção sob o efeito de drogas, promotores se baseiam nos depoimentos de policiais treinados para identificar em motoristas sinais de efeitos prejudiciais de drogas. Mas existem apenas cerca de 7.000 desses policiais nos EUA.
E, segundo o secretário de Justiça de Maryland, Douglas F. Gansler, persuadir um júri a condenar alguém por dirigir medicado ainda é difícil, exceto nos casos mais notórios.
"Como a maioria dos jurados provavelmente também toma medicamentos", disse Gansler, "quer seja Lipitor, anti-histamínicos ou seja o que for, os jurados podem pensar 'não quero que isso seja criminalizado'".


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