São Paulo, segunda-feira, 31 de maio de 2010

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Cultura antiga tem indícios de divisão social

Por JOHN NOBLE WILFORD
Em abril, em sua segunda temporada trabalhando no sítio de um assentamento antigo no sul do México, arqueólogos que escavavam nas ruínas de uma pirâmide se depararam com uma fileira de pedras grandes e chatas -a parede de um túmulo.
Dentro dele, encontraram esqueletos de um homem destacado, possivelmente um governante, e de dois humanos sacrificados. Os restos de outro adulto aparentemente de elite estavam em uma plataforma do lado de fora do túmulo.
O arqueólogo encarregado da escavação, Bruce Bachand, da Universidade Brigham Young (Utah), determinou pelo estilo dos artefatos de cerâmica cerimoniais encontrados no túmulo que os enterros aconteceram cerca de 2.700 anos atrás. Bachand disse que o túmulo pode ser anterior em vários séculos a qualquer outro dos túmulos decorados descobertos previamente em pirâmides mesoamericanas.
Em entrevista recente pelo telefone, Bachand contou que os dois esqueletos principais trazem as marcas de pessoas "do ápice da sociedade". A pessoa enterrada dentro do túmulo estava recoberta de pigmento vermelho de centenas de adornos de jade, tendo seus dentes incrustados com jade ou conchas marinhas.
O esqueleto encontrado fora do túmulo, possivelmente o de uma mulher, estava decorado com jade, pérolas e âmbar e tinha os dentes superiores incrustados com pirita, comumente conhecida como ouro de tolos. Os esqueletos sacrificais, um adulto e uma criança, não tinham adornos nem tampouco oferendas rituais. Antropólogos especializados nas culturas pré-colombianas de México e América Central disseram que ainda é cedo para avaliar o significado pleno da descoberta, mas concordaram com Bachand que se trata de um importante exemplo antigo de estratificação social nas culturas da região e de centralização política crescente.
O túmulo suscitou uma pergunta difícil de ser respondida: qual cultura foi responsável por ele? Naquela época, por volta de 700 a.C., a região era ocupada por várias sociedades que faziam comércio e saqueavam, promovendo um intercâmbio de tradições e cerâmicas. Suas elites selavam alianças e possivelmente casamentos entre pessoas de sociedades distintas.
Os olmecas, famosos por suas esculturas monumentais, difundiram sua influência ao interior, e pensava-se no passado que fossem a cultura dominante. Os maias estavam emergindo ao sul. Em volta de Oaxaca, os zapotecas estavam criando uma cultura avançada. E o Estado de Chiapas era habitado na época, como ainda é hoje, por pessoas que falavam a língua zoque.
Bachand observou que muitos artefatos achados no túmulo eram semelhantes ou idênticos aos encontrados nas ruínas olmecas de La Venta, Estado mexicano de Tabasco. "Será que essas pessoas vieram de La Venta?", ele perguntou. "Ou eram as pessoas locais que apenas refletiam suas interações com os olmecas?" Mas aspectos dos sepultamentos diferiam da cultura olmeca, disse ele. A construção do túmulo -um muro de pedra de um lado e paredes de argila dos outros lados- é diferente dos poucos túmulos olmecas conhecidos.
Em interpretação preliminar, Bachand disse que a cultura dos construtores do túmulo teve raízes olmecas, sugerindo a necessidade de mais pesquisas em La Venta. Mas ele citou a possibilidade de a descoberta evocar os primórdios de uma cultura zoque distinta. Se isso for fato, disse, a origem de certas tradições mesoamericanas antigas pode não ser olmeca ou maia, mas zoque -sociedade até agora subestimada.
A antropóloga Elsa Redmond, do Museu Americano de História Natural, se disse curiosa para descobrir a identidade da mulher sepultada na plataforma externa ao santuário interno.
Se era a mulher do governante, como aparentemente indicam seus adereços ricos, por que foi deixada para passar a eternidade fora do túmulo de seu marido?


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