São Paulo, segunda-feira, 31 de agosto de 2009

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Recuperação da Ásia destaca ascensão da China

STR/France Presse/Getty Images
A China está tirando a economia global da recessão. Investimentos em ativos fixos, como esta obra em Hefei, têm aumentado

Por NELSON D. SCHWARTZ

Paris
Em fases anteriores de desaquecimento econômico global, os EUA invariavelmente lideraram o mundo, conduzindo-o à recuperação. Agora, porém, pela primeira vez, o elemento catalisador está vindo da China e do restante da Ásia, cujas economias ressurgentes estão ajudando o Ocidente, ainda trôpego, a recuperar-se da recessão mais profunda desde a Segunda Guerra Mundial.
Economistas já previam havia muito tempo que uma China cada vez mais poderosa viria rivalizar com os EUA e, com o tempo, superá-los em termos de influência econômica. Embora a economia americana ainda seja mais de três vezes maior que a da China, a situação atual sugere que a superação pode chegar mais cedo do que o previsto. Isso teria consequências importantes para os EUA e o resto do mundo, mesmo depois de a recuperação econômica global ganhar força.
“O centro de gravidade econômica vem se deslocando há algum tempo, mas esta recessão assinala uma virada”, disse Neal Soss, economista-chefe do banco Credit Suisse em Nova York. “É a Ásia quem está reerguendo o mundo, em lugar de serem os EUA.”
A economia chinesa, dominada pelo governo, tem crescido desde que bancos chineses distribuíram mais de US$ 1 trilhão em empréstimos no semestre passado, além de um programa governamental de estímulo de quase US$ 600 bilhões.
Alguns economistas se perguntam se a China está deitando as bases para um crescimento sustentável ou se estará apenas aumentando sua capacidade de exportação, apesar de os consumidores ocidentais terem adotado hábitos de consumo mais frugais. “Não sei se a Ásia tem um plano B ao qual recorrer no caso de o consumidor americano e europeu não retornar”, aponta Kenneth S. Rogoff, professor de economia em Harvard.
Entretanto, a demanda forte por parte de empresas e consumidores chineses é uma das razões pelas quais os preços do petróleo dobraram, desde atingirem o nível mais baixo no início do ano, e é provável que a China continue a comprar dívida americana, à medida que Washington contrai empréstimos para financiar seus planos de estímulo e resgate.
Os EUA também estão perdendo o lugar de freguês crucial de países movidos pelas exportações, como Alemanha e Japão. A China superou os EUA no primeiro semestre de 2009 como principal parceiro comercial do Japão, e, na Europa, as empresas manufatureiras vêm olhando para o leste, em lugar do oeste.
No curto prazo, porém, os EUA devem beneficiar-se do ressurgimento asiático, na medida em que a economia americana voltar a crescer, como se espera que faça neste semestre. “A retomada forte no exterior, especialmente no leste asiático, sugere que as importações e exportações dos EUA devem apresentar melhora em breve”, disse Neal Soss.
Depois de as economias francesa e alemã terem —surpreendentemente— apresentando performances positivas no segundo trimestre, o Deutsche Bank divulgou um relatório intitulado “PIB da Zona do Euro no Segundo Trimestre: Made in China?”.
Por enquanto, a resposta parece ser “sim”. “É espantoso, porque a Ásia não costuma exercer um papel tão grande nas exportações ou na produção europeias”, disse Gilles Moec, economista europeu sênior junto ao Deutsche Bank em Londres.
“A Ásia ainda é relativamente pequena no mundo, mas reflete as transformações mundiais em curso, e, é claro, o poder econômico se traduz, sim, em poder político”, disse Simon Johnson, membro sênior do Instituto Peterson de Economia Mundial. “Você pode usá-lo para conquistar amigos e influenciar pessoas, como os chineses já vêm fazendo na África e na América Latina.”


Colaborou Nadim Audi, em Paris


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