São Paulo, segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

TENDÊNCIAS MUNDIAIS

Mundo privilegiado expele segredos

Por GRAHAM BOWLEY

Bancos em todo o mundo têm enfrentado dificuldades, e os prejuízos das instituições financeiras europeias estão entre os mais desastrosos. Além disso, seu prestígio, seu suposto sigilo e sua independência sofreram um novo golpe recentemente, quando o governo da Suíça aceitou divulgar para os EUA os nomes de 4.450 cidadãos norte-americanos suspeitos de usarem contas secretas do UBS, maior banco suíço, para fins de evasão fiscal.
Isso foi possível graças a um delator de origem norte-americana —codinome Tarântula—, que trabalhava no UBS na Suíça.
Mas seria errado ver esse acordo como um ataque contra um só banco por parte de um só governo. É, na verdade, o resultado de um momento político mais amplo, já que o desencanto com a globalização financeira está levando os governos a repatriarem fortunas para dentro das suas fronteiras, especialmente diante da desesperada necessidade de equilibrar suas contas.
Há poucos anos, na era pré-crise, o funcionamento escuso dos bancos transnacionais —e o que poderia ou não estar acontecendo ali— era algo geralmente ignorado.
E, embora alguns supostos sonegadores fiscais possam ser os criminosos de guerra, os contrabandistas de armas e os déspotas habitualmente associados a contas secretas no exterior, os novos esforços têm muito mais probabilidade de ter como alvos prósperos empresários e donos de fortunas.
“Há um movimento político por causa do colapso financeiro”, disse um veterano banqueiro europeu, que pediu anonimato por já estar aposentado. “Eles estão se voltando contra os ricos e querem prejudicá-los.”
É claro que os EUA veem a questão de forma um pouco diferente. Promotores argumentam que, só no caso do UBS, norte-americanos ricos ocultaram bilhões de dólares, assim sonegando centenas de milhões de dólares por ano em impostos.
Embora a Suíça seja possivelmente o maior paraíso fiscal do mundo, não é o único. Outros países ou territórios copiaram o modelo —Liechtenstein, Bermudas, ilhas Cayman, Macau e Hong Kong, entre eles. E, embora a Suíça seja provavelmente vista como o paraíso fiscal mais conservador, valorizado e respeitado, os outros são avaliados conforme uma escala de probidade e associação com práticas empresariais dúbias, quando não criminosas.
O banqueiro europeu contou que no começo da década de 1990, após a queda da União Soviética, ele trabalhava na Suíça, onde segundo ele agentes de expatriados russos apareciam com “caixas de dinheiro” vindas do Chipre, popular refúgio ao capital que escapava das autoridades russas e do caos da época no país.
A reação contra esse mundo ilícito não se restringe aos Estados Unidos; é aparente por toda a Europa também.
A França se tornará um dos primeiros países europeus a colocar em vigor um novo tratado fiscal com a Suíça, a fim de melhorar a transparência e o acesso à informação bancária. A Alemanha está em discussões com Liechtenstein a respeito de questões relativas à evasão fiscal por parte de empresas e indivíduos alemães. Liechtenstein também já fechou um acordo de divulgação de dados com o Reino Unido, incentivando clientes britânicos de bancos do principado a apresentarem voluntariamente informações às autoridades tributárias britânicas, em troca de penalidades reduzidas.
Na Itália, as autoridades tributárias começaram a investigar se o espólio de Gianni Agnelli, que foi presidente da Fiat, tem dinheiro escondido na Suíça. No Reino Unido, o governo se tornou particularmente treinado pela competição fiscal —a oferta de impostos baixos, o sigilo fiscal e outras vantagens para atrair capital.
Doug Schulman, comissário do IRS (Receita Federal dos EUA), disse que o acordo com o UBS foi “um importante passo à frente” nos esforços dos EUA para furar o sigilo bancário e alertou que “os norte-americanos ricos que esconderam seu dinheiro no exterior vão se ver em apuros”.


Texto Anterior: Recessão global ameaça unidade da Europa

Próximo Texto: Inteligência: Deixar o ódio para trás
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.