São Paulo, segunda-feira, 31 de agosto de 2009

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Lente

E segue a música…

Há mais de 35 mil anos, um osso oco de urubu com cinco buracos se tornou o primeiro instrumento musical conhecido. Ele foi descoberto recentemente em uma caverna da Alemanha.
“Dar o passo de simplesmente respirar para realmente produzir um som exige uma compreensão diferente a respeito de si”, disse o flautista profissional Sato Moughalian a Daniel Wakin, do “New York Times”.
Assim como a autoconsciência, também a tecnologia para fazer música evoluiu. Agora, graças a videogames e softwares para correção de timbre, pessoas sem voz melodiosa ou sem um instrumento podem tocar junto.
“Todos vêm ao mundo com o desejo inato de fazer música”, disse Alex Rigopulos, executivo-chefe da Harmonix Music Systems, a Daniel Radosh, do “New York Times”.
A Harmonix criou os videogames Guitar Hero e Rock Band, em que os usuários acompanham a música usando controles com o formato de instrumentos.
“Um jogo como o Rock Band talvez lhe faça chegar 50% lá, com 3% do esforço”, prosseguiu Rigopulos.
Muita gente não se seduz por fingir que toca. É o caso de Allan Koznin, articulista do “New York Times” e guitarrista. “A ideia de apanhar uma coisa com formato de guitarra de plástico”, escreveu ele num blog do jornal, “e apertar botões enquanto um monte de pontos coloridos rola diante de um fundo com um desenho dos Beatles simplesmente não funciona para mim”.
Mas muitos usuários estão satisfeitos. O Guitar Hero e o Rock Band já faturaram mais de US$ 3 bilhões em vendas, escreveu Radosh. (Os jogos demoraram mais para pegar na Europa; agora, há versões internacionais com diferentes canções.)
Os Beatles estão trabalhando em um jogo do Rock Band para ser lançado junto com a versão remasterizada de todo o seu catálogo. Paul McCartney, um dos dois ex-integrantes da banda ainda vivos, disse a Radosh que o jogo fará as pessoas sentirem que “possuem ou são donas da música, que estiveram nela”.
O outro beatle sobrevivente, Ringo Starr, foi mais cético. “Estão jogando um jogo, não fazendo música”, disse ele a Radosh. “A música já está feita.”
Para ajudar os cantores, há o programa de correção de timbre Auto-Tune. Quando usado em excesso, porém, pode fazer as vozes soarem robóticas.
O uso onipresente do Auto-Tune por cantores norte-americanos de pop e R&B já provoca paródias e desprezo. Em uma série de vídeos na internet chamada “Auto-Tune the News” (“Auto-Tune as noticias”), o músico Michael Gregory, 24, usa o software sobre vozes de âncoras e analistas, escreveu Robert Mackey no blog “The Lede”, do “New York Times”. O rapper Jay-Z recentemente lançou um single chamado “D.O.A. (Death of Auto-Tune)”, ou “morte do Auto-Tune”.
Os arqueólogos que encontraram a flauta de osso na Alemanha disseram ao repórter John Noble Wilford que a música “poderia ter contribuído com a manutenção de redes sociais maiores, e portanto talvez tenha ajudado a expansão demográfica e territorial dos humanos modernos”.
Já os neandertais, que foram mais ou menos contemporâneos da flauta de osso, não deixaram evidências de que fossem musicais, escreveu Wakin. “Cerca de 10.000 anos depois”, notou ele, “foram extintos”.


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