São Paulo, segunda-feira, 31 de agosto de 2009

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TENDÊNCIAS MUNDIAIS

Governo dá pouca ajuda a aldeias afegãs


Fuzileiros navais não são bem-vindos em bastiões do Taleban

Por RICHARD A. OPPEL Jr.

KHAN NESHIN, Afeganistão — Os fuzileiros navais americanos ocuparam a aldeia desolada de Khan Neshin, no sul do Afeganistão, há quase dois meses, e recentemente estavam fortificando bases, mantendo postos de controle e patrulhando com armadura corporal completa sob um calor escaldante. Apesar desses esforços, apenas algumas centenas de afegãos tiveram coragem de sair para votar nas eleições presidenciais de 20 de agosto.
Em uma região que o Taleban domina há quase seis anos, os oficiais americanos dizem que suas tropas não bastam para tranquilizar os afegãos. Falta alguma coisa que deixa desanimado até o recém-nomeado governador do distrito, Massoud Ahmad Rassouli Balouch. “Não recebo nenhum apoio do governo”, disse.
Ele não tem um corpo de assessores para ajudá-lo a dirigir a área, nem médicos para atender os doentes, professores ou profissionais para fazer qualquer coisa. Tudo isso levanta sérias questões sobre qual é a missão americana no sul do Afeganistão —dominar a área ou administrá-la?— e por quanto tempo os afegãos vão tolerar tropas estrangeiras se não começarem a ver logo os benefícios reais de seu próprio governo.
Os fuzileiros têm apenas forças suficientes para liberar pequenos bolsões como Khan Neshin. E, apesar da presença americana, as autoridades afegãs dizem que 290 pessoas votaram ali no único local de votação em uma região de cerca de 14 mil km2. Algumas autoridades ficaram surpresas de ver tantos votarem, diante dos relatos de intimidação generalizada. Uma contagem preliminar deu ao atual presidente do país, Hamid Karzai, a liderança no pleito. (Os resultados finais estão previstos para setembro).
Mesmo com a nova operação na Província de Helmand, que envolve os fuzileiros navais e mais de 3.000 outros como parte da mobilização de tropas de Barack Obama, as forças militares não conseguem ocupar alguns importantes centros populacionais e enclaves guerrilheiros.
Enquanto isso, os afegãos de Khan Neshin, o posto avançado dos fuzileiros mais ao sul na Província de Helmand, estão procurando os americanos com pedidos de tratamento médico, reparos de canais de irrigação e reabertura de escolas.
“Sem o governo afegão, não teremos sucesso”, disse o capitão Korvin Kraics, o advogado do batalhão, que está em Khan Neshin. “Há necessidade de burocracia em nível local para derrotar os rebeldes. Sem a estabilidade que isso traz, o Taleban pode continuar no controle.”
O governador Massoud disse que pessoalmente admira os fuzileiros que estão ali, do Segundo Batalhão de Reconhecimento Blindado Leve, mas que muitas pessoas “simplesmente não os querem aqui”.
Ele calcula que 2 em cada 3 moradores locais apoiam o Taleban, principalmente porque ganham a vida cultivando papoula para o tráfico de drogas, que o Taleban controla. Outros o apoiam por motivos religiosos ou porque são contra as forças estrangeiras.
A população compreende que o Taleban não desapareceu, mas simplesmente recuou para Garmsir, 65 quilômetros ao norte, e quase certamente tentará voltar —e castigar os que apoiam os americanos.
Frustrado, Massoud disse que seu governo “está fraco e não pode fornecer autoridades agrícolas, escolares, promotores e juízes”. Ele disse que lhe prometeram 120 policiais, mas só apareceram 50. Acrescentou que muitos eram homens mal treinados, inconfiáveis, que roubaram a população —descrição que muitos americanos corroboram.
O contingente do Exército afegão parece mais preparado —embora tenha um sexto do tamanho que foi prometido, segundo o governador—, mas os soldados se recusaram a algumas missões porque dizem que não foram enviados para combater, e sim para se recuperar.
“Viemos aqui para descansar, depois vamos para outro lugar”, disse o tenente Javed Jabar Khail, comandante da unidade de 31 homens. Os fuzileiros dizem esperar que a próxima leva de soldados afegãos não venha esperando férias.
Enquanto isso, no bazar local, diante da base dos fuzileiros navais, a presença de tropas estrangeiras continua impopular.
Quando Abdul Hanan se queixou de que “mais pessoas estão morrendo”, o tenente dos fuzileiros Jake Weldon lhe disse que o Taleban “tira suas escolas, tira seus hospitais, e nós trazemos essas coisas de volta”.
Hanan continuou em dúvida. Algumas pessoas abandonaram a área desde que os fuzileiros chegaram, temendo a violência. Ele perguntou: “Então vocês querem construir um hospital ou uma escola para nós, mas se não houver ninguém aqui, o que vamos fazer?”


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