São Paulo, segunda-feira, 31 de agosto de 2009

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NEGÓCIOS VERDES

Clubes de golfe aperfeiçoam irrigação

Por LESLIE KAUFMAN

ATLANTA — Seis anos trás, quando o governo do Estado da Geórgia (EUA) refez o regulamento para uso da água durante as secas, não deu folga para um culpado óbvio: os campos de golfe. Com seus gramados cor de esmeralda que brilham nas condições mais adversas, eles eram um alvo tentador.
Mas os administradores dos clubes de golfe ficaram indignados. Afirmaram que estavam contendo o uso de água de muitas maneiras, como plantar gramas nativas e verificar os padrões dos borrifadores de água. Em vez de penalizados, eles disseram que deveriam ser imitados.
Demorou um pouco, mas do sul dos EUA até seu oeste árido esse desejo está se tornando realidade. Conscientes de que o aquecimento global poderá provocar períodos cada vez mais longos de seca, os governos estão consultando os clubes de golfe sobre estratégias de uso da água.
O Marriott International tem aplicado lições que aprendeu com seu campo de golfe em Atlanta aos resorts de outros Estados. A ONG Habitat for Humanity está fazendo paisagismo de jardins com plantas tolerantes a secas recomendadas por superintendentes de golfe. “Se você quiser aprender a irrigar, estes são os sujeitos certos para perguntar”, disse Garith Grinnell, que recentemente se aposentou do Departamento de Água do Sul de Nevada.
Esses elogios são uma reviravolta para um setor que muitas vezes é acusado de prejudicar o meio ambiente por conta do uso excessivo de água e de pesticidas.
Na Geórgia, a mudança de perspectiva ocorreu em grande parte por causa de uma seca intensa que atingiu o auge em 2007. Naquele ano, 97% dos clubes da Associação de Superintendentes de Clubes de Golfe da Geórgia haviam adotado voluntariamente as práticas tidas como melhores no uso da água, reduzindo o consumo, segundo suas estimativas, em 25% em três anos.
O lago Lanier, principal reserva de água de Atlanta, havia baixado a um nível recorde, expondo o fundo lamacento que não se via há meio século. As autoridades estaduais e locais imaginaram que os clubes de golfe deviam ter um conhecimento útil a respeito.
Os gerentes dos clubes “são de grande ajuda técnica para mim”, disse Kathy Nguyen, presidente do Conselho de Uso da Água da Geórgia, associação estadual de profissionais hídricos que incentiva a conservação. “Eu posso ligar para eles e conversar sobre diferentes tecnologias.” (A seca na Geórgia diminuiu de maneira significativa este ano.)
Nguyen contou com superintendentes de golfe para traçar as diretrizes para proprietários de casas, como deixar a grama crescer mais, consertar vazamentos nas mangueiras e manter afiadas as lâminas dos cortadores de grama. (A grama cortada por lâminas cegas fica rasgada e exige mais água para se manter saudável.)
A indústria de golfe ainda atrai fortes críticas dos ambientalistas. Afinal, a grama é a mais sedenta das plantas. Um campo de golfe médio nos Estados Unidos consome cerca de 190 milhões de litros de água por ano —comparável ao consumo anual de 1.400 pessoas. No oeste, os números são maiores.
Mas essa realidade, juntamente com o crescente preço da água, levou a medidas como a irrigação dos campos de golfe com “água cinza”, ou água servida não industrial que é reciclada para outros fins.
Tom Bancroft, cientista-chefe da Sociedade Nacional Audubon, diz que, apesar de todo o progresso feito, o golfe continua sendo uma atividade problemática. Muitos campos “usam fertilizantes que podem escorrer para cursos de água fresca, e muitos usam pesticida nos gramados”, disse Bancroft. (A Audubon International, um outro grupo, trabalha com campos de golfe para incentivar a preservação da vida silvestre.)
Mark Esoda, superintendente do Atlanta Country Club, no Estado da Geórgia, cujas taxas de admissão são de US$ 85 mil, reconhece que as práticas entre os campos dos EUA variam de indiferentes a conscientes. Mas Esoda afirma que ele e outros superintendentes têm muito a ensinar aos municípios sobre irrigação de campos esportivos e aos donos de casas sobre manutenção de jardins.
Percorrendo o campo em calçadas sombreadas por pinheiros, Esoda de repente para junto ao sétimo buraco. Ele aponta para uma área de gramado recém-plantado da variedade zoysia, uma grama de sombra e de clima quente nativa do Sudeste Asiático e da Austrália. Nas partes sombreadas do campo, ele está substituindo o gênero fescue, grama de sombra para clima frio capaz de sobreviver ao inverno, e que portanto exige mais cinco meses de irrigação e corte.
Esoda disse que também instalou monitores acessíveis que evitam que os borrifadores automáticos sejam ativados durante uma chuva ou logo depois. E pontos secos isolados no gramado são aguados com regadores, e não com o sistema de irrigação.
Finalmente, Esoda fez uma adaptação estética depois de anos saboreando o brilho verde de um gramado perfeito. “Sequinho nas bordas não tem problema”, disse.


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