São Paulo, segunda-feira, 31 de agosto de 2009

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Produção de gelo é desafio olímpico em Vancouver

Por JOHN BRANCH

VANCOUVER, Canadá — O gelo parece ser algo simples: água em temperatura muito baixa. Mas é uma ciência que toma o ano inteiro das pessoas contratadas pelo comitê organizador dos Jogos de Vancouver para produzir complexas formas de gelo para as próximas Olimpíadas de Inverno, em fevereiro de 2010.
Além dos desafios usuais da construção de superfícies de gelo para atender às necessidades de esportes diferentes em locais distintos, Vancouver difere das outras cidades que já sediaram Olimpíadas de Inverno por sua localização geográfica, que combina altitude do nível do mar e alto índice de umidade.
Somem-se a isso as exigências usuais da mídia que cobrem o evento —como iluminação forte e programação inflexível dos eventos—, e os chamados “mestres do gelo” podem querer produzir alguns cubos adicionais para acompanhar um drinque reforçado.
Seis meses antes de os Jogos de Inverno começarem, esses especialistas já comandam um calendário repleto de eventos e treinos.
Mais ou menos metade dos eventos dos Jogos acontecerá sobre gelo cuidadosamente produzido, com espessura de entre 2 e 5 cm. Em cada local, o gelo precisa atender a critérios específicos de temperatura, textura, composição e até mesmo cor (devido à TV), quer esteja espalhado por uma superfície imensa dentro de um estádio ou na encosta de uma montanha. Precisa conservar sua consistência por semanas, apesar do efeito conjunto de seus inimigos, desde os óbvios (o sol, objetos cortantes e a passagem de trenós de 630 kg) até os menos óbvios (as portas abertas dos estádios, os espectadores e patinadores artísticos de 40 kg).
“Não é possível simplesmente sair e fazer gelo”, disse Hans Wuthrich, encarregado da recém-construída arena de curling.
Os cinco especialistas em gelo do evento têm vínculos profundos com o Canadá e experiência em Olimpíadas anteriores. Em nome do gelo, ajudaram a projetar novos locais e as modernizações dos locais já existentes. Visitaram as estações de tratamento de água de Vancouver para estudar o ingrediente-chave de seu trabalho.
Considere-se o desafio que tem pela frente Tracy Seitz, que vai produzir gelo para os competidores nos eventos de bobsled, luge e skeleton. A pista em curvas, com mais de um quilômetro de extensão, começa em altitude de 940 metros e desce até 785 metros. Em fevereiro, às vezes neva em sua parte superior e chove na parte inferior. De vez em quando acontece o contrário.
As partes planas da pista têm formato de U. As curvas entre margens altas têm formato de C. Trechos da pista são voltados ao sol do meio-dia. Outros trechos estão sempre à sombra. Algumas das competições terão lugar à noite. “Queremos assegurar que o gelo não mude consideravelmente no calor de uma corrida”, disse Seitz.
Mesmo em ambientes fechados, a maior parte do gelo começa da mesma maneira: sobre concreto, ocultando um labirinto de tubos de refrigeração. A água é acrescentada em camadas finas, porque isso produz gelo mais forte do que se conseguiria enchendo um rinque com alguns centímetros de água, como se o rinque fosse uma gigantesca bandeja de gelo.
“A água em Vancouver é incrível”, disse Mark Messer, responsável pelo gelo do Oval Olímpico Richmond, onde terão lugar as provas de patinação em velocidade. “Ela é limpíssima. Temos uma unidade de filtragem que quase deixa a água limpa demais. É preciso um pouquinho de impurezas para consolidar as coisas.”
Sobre sua base fina, o gelo é pintado, normalmente num tom conhecido como “cinza televisão”. A aparência é branca quando comparada a chapas de concreto, criando um pano de fundo propício para a TV.
Antes do acréscimo das camadas finais, são colocados sensores no gelo. Outros sensores medem a temperatura e umidade do ar nos ambientes fechados, emitindo avisos em casos de mudanças.
A maior preocupação é a umidade. Quando o ar úmido entra em contato com o gelo, forma-se geada. “Quando há geada, não é possível tirá-la do gelo”, disse o especialista em gelo Kameron Kiland.


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