São Paulo, segunda-feira, 31 de outubro de 2011

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Gás desperdiçado pelos EUA ilumina plantações

Queimar gás o gás natural é mais barato produzí-lo

Por CLIFFORD KRAUSS

Em todo o oeste de Dakota do Norte, centenas de incêndios se erguem sobre trigais, campos de girassóis e fardos de feno. À noite, eles iluminam o céu da pradaria como enormes vagalumes.
Não são incêndios florestais, e sim a queima deliberada de gás natural por empresas que exploram às pressas o petróleo do campo de xisto de Bakken, aproveitando a cotação elevada do produto. Bolhas de gás aparecem junto, e, como há pouco incentivo econômico para capturá-las, as empresas tratam o gás como um resíduo e o queimam.
A cada dia, mais de 2,8 milhões de metros cúbicos de gás natural -suficientes para aquecer 500 mil lares- são consumidos dessa forma, e isso gera pelo menos 1,8 milhão de toneladas de dióxido de carbono por ano, o mesmo que 384 mil carros ou uma usina termoelétrica a carvão de porte médio emitiriam.
De todo o gás extraído em Dakota do Norte, 30% são queimados como resíduo. Nenhum outro grande campo petrolífero dos EUA chega perto disso, embora a prática seja comum em países como Rússia, Nigéria e Irã.
"Dakota do Norte não está tão mal quanto o Cazaquistão, mas não é isso que você esperaria que uma sociedade civilizada e eficiente fizesse", disse Michael Webber, diretor-associado do Centro para a Política Energética e Ambiental Internacional, da Universidade do Texas, em Austin.
As companhias petrolíferas dizem que a realidade econômica estimula a queima de gás no Bakken, maior campo descoberto nos EUA em quatro décadas.
Eles argumentam que não têm como arcar com gasodutos e usinas de processamento de gás enquanto não tiverem realmente perfurado os poços petrolíferos e calculado quanto gás vai aparecer.
Como o campo tem quase 40 mil km2 "demora para testar o que está lá, e aí construir um sistema de coleta e uma usina", disse Harold Hamm, executivo-chefe da Continental Resources, uma das maiores produtoras de petróleo no campo de Bakken.
O preço do gás natural despencou desde 2008, já que vastos campos de xisto repletos de gás estão sendo explorados por meio do fraturamento hidráulico e da perfuração horizontal.
Embora capturar o gás seja a melhor opção, cientistas dizem que a queima é melhor para o meio ambiente do que simplesmente lançar o gás na atmosfera.
O gás natural puro é composto principalmente de metano, que retém mais o calor na atmosfera do que o dióxido de carbono. Até agora, as autoridades sanitárias de Dakota do Norte dizem que a queima não produziu uma poluição grave. Mas ela pode se tornar mais uma dor de cabeça ambiental para um setor já sob ataque devido aos temores de que o fraturamento hidráulico prejudique a qualidade da água.
Os ambientalistas também estão alarmados.
"É hora de os reguladores darem uma boa olhada nos impactos da queima, e assegurarem que as soluções disponíveis para o problema estejam disponíveis antes que haja uma maior expansão da prática", afirmou May Mall, analista-sênior de políticas do Conselho de Defesa dos Recursos Naturais.
Algumas empresas em Dakota do Norte, como a Whiting Petroleum, devem investir US$ 3 bilhões em três anos para construir dutos e usinas que permitam levar o gás aos mercados em vez de queimá-los.
A Whiting, do Colorado, está ampliando a perfuração petrolífera ao mesmo tempo em que constrói e amplia duas usinas para processar o seu gás e também a produção de terceiros.
A Whiting queimava 80% do gás no seu primeiro grande campo de Bakken, em 2007, mas diz que agora reduziu a queima para 20% em todos os seus campos, e que isso cairá ainda mais quando uma segunda usina de gás estiver operacional. "Nossa meta é termos emissão zero", disse James Brown, presidente e diretor operacional da Whiting. "É um desperdício ficar jogando fora toda essa energia", afirmou ele.



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