São Paulo, domingo, 01 de julho de 2001

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Opa!

Dada a fragilidade dos argumentos da réplica do último domingo de Paulo Daniel Farah à coluna do dia 17, em que critiquei a entrevista com Iasser Arafat, pensei de início em dispensar a tréplica. Porém, o perigoso eixo de seu texto -que nada tem a ver com um debate jornalístico- me fez mudar de idéia.
Pois Farah me acusa de "discriminação".
Ora, discriminação contra quem? Contra Arafat, cujas declarações nem sequer comentei? Contra Farah, cujo nome só mencionei para elogiar a conquista da entrevista, tendo atribuído ao jornal como um todo a responsabilidade pela má condução editorial? Contra os palestinos, cuja causa nem discuti?
Ou será contra o primeiro-ministro de Israel, Ariel Sharon, já que sugeri que o jornal fosse severo com ele -o que não foi com Arafat- caso venha a entrevistá-lo?
Farah se deixou contaminar pelo tom emocional de algumas das cartas de leitores publicadas no jornal (e aí me penitencio: se o tivesse convidado a expor seu lado na própria coluna, talvez isso não teria se dado).
Confundiu uma discussão de técnica jornalística com outra (inexistente no meu texto) de mérito sobre o conflito israelo-palestino.
Essa deformação soa ainda mais descabida diante do fato de que este ombudsman há mais de vinte anos defende, inclusive em entrevistas, o reconhecimento de um Estado palestino, considerando a constituição de uma confederação israelo-palestina a única solução para o conflito.
Ao contrário do que Farah dá a entender, não senti qualquer "incômodo" com as declarações de Arafat. Apenas, como afirmei, com o fato de o jornal desperdiçar a oportunidade de ouvir criticamente -o que não implica "agressividade verbal", aqui estamos de acordo- uma personalidade tão importante.
Só uma leitura distorcida pôde ver na coluna desrespeito à diferença ou discriminação. Devagar com o andor.

O mesmo problema
O princípio de atuação jornalística discutido aqui é tão presente, que no mesmo dia em que saía a coluna, a Folha publicava entrevista com Luiz Inácio Lula da Silva com exatamente o mesmo problema: só perguntas para "levantar a bola". Exemplos:
"Em que o PT hoje é diferente das campanhas de 1989, 1994 e 1998? O que será preciso mudar para vencer?", "Qual a cara do PT que vai disputar as eleições em 2002?", "Você pode dar três razões para o eleitor votar no PT?"
Em contraponto, recomendo reler as entrevistas de José Serra (21/6) e Ciro Gomes (24/6). Obras antológicas? Não. Mas ao menos questionam raciocínios dos entrevistados -é o mínimo que um bom pingue-pongue requer.


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