São Paulo, domingo, 02 de dezembro de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Operação caça-níquel

"Muito bom para empresas, para a Anatel e para a Folha o caderno Comunicação Digital. Mas e para o leitor? O que esse caderno trouxe de informação, e não de propaganda? Alguém lembrou que o leitor da Folha não é o "mercado'?".
O trecho acima abre carta publicada sexta-feira no Painel do Leitor, de Marcel Ribeiro da Silva, de São Paulo.
Ele se refere ao caderno especial "Futuro sem Fio", publicado terça-feira, sobre as perspectivas das telecomunicações no Brasil para 2002.
A indignação de Silva faz todo sentido.
De um total de oito, três páginas e meia são ocupadas por propaganda de empresas ligadas ao tema. Tirando-se a capa -uma ilustração-, sobram apenas outras três páginas e meia para jornalismo.
As reportagens, por sua vez, com uma exceção, traziam marcas típicas de textos básicos, não obrigatoriamente mal-escritos, tampouco frívolos, mas certamente acríticos, vendedores de um panorama róseo do setor.
Veja alguns títulos: "Nova geração celular promete internet veloz"; "Voz, dados e imagens vão ser enviados juntos"; "Abertura pode criar mais concorrência".
Tudo bem, até, desde que houvesse, em compensação, análises ou pesquisas, reportagens questionadoras ou entrevistas que pudessem reportar a realidade de modo mais profundo. Como indagou, ainda, o leitor:
"Por que o nosso serviço de telefonia ainda cobra assinatura e não somente os serviços efetivamente prestados? (...) A expansão da rede de telefonia foi feita com qualidade? Por que até hoje há pontos "cegos", ou melhor, "surdos-mudos" na telefonia móvel dentro da cidade de São Paulo? (...) O papel da Folha é informar ou alardear promessas vagas?".
Essa carta, como se diz, pega na veia.

"Soluções"
Como já ocorreu -e ocorre- em outros órgãos de comunicação de modo explícito, a Folha realizou, nesse caso, uma nítida operação caça-níquel, na qual a busca de verba publicitária superou o dever de levar ao leitor informação de qualidade.
Como avaliei semana passada neste espaço, a situação econômica dos jornais está grave e cobra iniciativas. Anúncios são, sem dúvida, uma arma essencial na luta pelo azul nas contabilidades.
Mas não será com "soluções" assim -a não ser na visão de curto prazo-, vendendo a alma ao diabo (perdoem, publicitários, é só força de expressão), que um jornal de qualidade se garantirá.


Texto Anterior: "Balas perdidas"
Próximo Texto: Para cima, para baixo
Índice


Bernardo Ajzenberg é o ombudsman da Folha. O ombudsman tem mandato de um ano, renovável por mais dois. Ele não pode ser demitido durante o exercício do cargo e tem estabilidade por seis meses após o exercício da função. Suas atribuições são criticar o jornal sob a perspectiva do leitor -recebendo e verificando as reclamações que ele encaminha à Redação- e comentar, aos domingos, o noticiário dos meios de comunicação.
Cartas: al. Barão de Limeira 425, 8º andar, São Paulo, SP CEP 01202-900, a/c Bernardo Ajzenberg/ombudsman, ou pelo fax (011) 224-3895.
Endereço eletrônico: ombudsman@uol.com.br.
Contatos telefônicos: ligue (0800) 15-9000; se deixar recado na secretária eletrônica, informe telefone de contato no horário de atendimento, entre 14h e 18h, de segunda a sexta-feira.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.