São Paulo, domingo, 04 de janeiro de 2009

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Dois jornais, dois juízes e suas diferenças

O presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, apareceu nas páginas da Folha 651 vezes durante o ano passado. O da Suprema Corte dos EUA, John Roberts, esteve nas do "New York Times" no mesmo período 742 vezes. A diferença não é expressiva.
O que impressiona é a maneira como Roberts surge no "Times" em comparação com Mendes na Folha.
Roberts está no jornal quase exclusivamente em citações de suas opiniões nos casos que julga e de suas intervenções nas audiências que norteiam a decisão dos juízes. Ou quando alguém se refere a ele: políticos, colunistas, editoriais.
Há só uma declaração de Roberts no "Times" fora da corte: de 31 de dezembro de 2008, quando pediu ao Congresso que aumentasse o salário dele próprio e de seus colegas.
Roberts quase não dá entrevistas. No ano passado, nenhuma que eu tenha conseguido localizar. Também não faz discursos fora do tribunal.
Em 2006, falou à rede de TV ABC, e foi criticado por ter citado memórias de juventude.
Mendes é diferente, em especial neste jornal, que lhe confere status de celebridade, nos seus piores aspectos. Em 50 textos em 2008, ele aparece fazendo declarações, muitas de cunho político, algumas repetidas duas vezes com títulos semelhantes ("o habeas corpus é como o ar") no espaço de quatro dias (12 e 16 de dezembro).
Se Roberts e a rede ABC foram atacados por ele ter se lembrado de seus dias como jogador de futebol no colégio e demonstrado camaradagem excessiva com a entrevistadora, o que se diria se aparecesse como a revista Serafina deste jornal retratou Mendes em 8 de junho, em reportagem chamada "O amor e o poder", em que ele e sua mulher posavam na intimidade do lar como se fossem astros de cinema?


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