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Dois jornais,
dois juízes e
suas diferenças
O presidente do Supremo
Tribunal Federal, Gilmar Mendes, apareceu nas páginas da
Folha 651 vezes durante o ano
passado. O da Suprema Corte
dos EUA, John Roberts, esteve
nas do "New York Times" no
mesmo período 742 vezes. A diferença não é expressiva.
O que impressiona é a maneira como Roberts surge no "Times" em comparação com
Mendes na Folha.
Roberts está no jornal quase
exclusivamente em citações de
suas opiniões nos casos que julga e de suas intervenções nas
audiências que norteiam a decisão dos juízes. Ou quando alguém se refere a ele: políticos,
colunistas, editoriais.
Há só uma declaração de Roberts no "Times" fora da corte:
de 31 de dezembro de 2008,
quando pediu ao Congresso
que aumentasse o salário dele
próprio e de seus colegas.
Roberts quase não dá entrevistas. No ano passado, nenhuma que eu tenha conseguido
localizar. Também não faz discursos fora do tribunal.
Em 2006, falou à rede de TV
ABC, e foi criticado por ter citado memórias de juventude.
Mendes é diferente, em especial neste jornal, que lhe
confere status de celebridade,
nos seus piores aspectos. Em
50 textos em 2008, ele aparece
fazendo declarações, muitas de
cunho político, algumas repetidas duas vezes com títulos semelhantes ("o habeas corpus é
como o ar") no espaço de quatro dias (12 e 16 de dezembro).
Se Roberts e a rede ABC foram atacados por ele ter se
lembrado de seus dias como jogador de futebol no colégio e
demonstrado camaradagem
excessiva com a entrevistadora, o que se diria se aparecesse
como a revista Serafina deste
jornal retratou Mendes em 8
de junho, em reportagem chamada "O amor e o poder", em
que ele e sua mulher posavam
na intimidade do lar como se
fossem astros de cinema?
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