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OMBUDSMAN
As fotos do Chico
MARCELO BERABA
Volto ao tema do jornalismo de celebridades provocado por um novo episódio. O
"Estado de S.Paulo" e a Folha
publicaram, na quarta, uma
foto do compositor Chico Buarque à tarde, no mar do Leblon,
no Rio, beijando uma mulher.
A Folha editou a foto na coluna "Mônica Bergamo", na Ilustrada, mas a retirou quando
20% da edição (cerca de 60 mil
jornais) já havia sido rodada.
As edições que recebi no Rio (a
Nacional e a São Paulo) não tinham a foto.
O "Estado" publicou a mesma foto na primeira página,
pequena, e internamente. O
texto da primeira: "Personalidade. É só uma amiga, diz Chico após o beijo. Compositor está
na capa da revista "Quem", fotografado no mar do Leblon".
Achei a publicação do flagrante despropositada. Como
não tinha visto a foto na Folha,
comentei apenas o caso do "Estado" na Crítica Interna: "O "Estado" se rende à onda do jornalismo
de celebridades e publica hoje (...)
foto do compositor Chico Buarque beijando uma mulher na
praia do Leblon. A justificativa
jornalística é a de que a foto está
na capa de uma revista de celebridades".
Na mesma quarta, o "Diário de
S.Paulo", do grupo que edita "O
Globo" do Rio, também publicou
o flagrante e foram para as bancas duas revistas com as fotos originais, "Quem" e "Contigo". No
dia seguinte, o "Agora", diário da
Empresa Folha da Manhã que
também edita a Folha, reproduziu as fotos com o nome da amiga
de Chico e a informação de que
seria casada.
Enviei um e-mail para o "Estado" e recebi do editor-executivo
Roberto Gazzi a seguinte justificativa: "Entendemos que Chico
Buarque, por sua história, é e será
sempre um grande tema jornalístico. E no caso, sendo uma figura
pública e fotografado num local
público, não consideramos que
tenha ocorrido invasão de privacidade".
A Folha justificou a publicação
com os mesmos argumentos. E
por que retirou a foto no meio da
impressão? A explicação é da secretária de Redação Suzana Singer: "Decidimos tirar a foto
quando recebemos a informação
de que a mulher, casada, tem filhos pequenos. Entre atender a
curiosidade pública e expor
crianças a possíveis situações vexatórias, optamos pela não publicação. A intenção não foi proteger Chico Buarque".
Achei correta a decisão do jornal de suprimir a foto. E continuo
questionando o interesse de jornais como a Folha e o "Estado"
em casos como esses em que não
existe qualquer relevância, exceto a curiosidade.
Duas observações sobre este assunto.
1 - É certo que cabe ao próprio
Chico Buarque zelar por sua privacidade e a de sua companheira
de banho. Ao se dispor a namorar
numa praia, no meio da tarde, é
claro que estava sujeito à curiosidade das pessoas e ao flagrante
da imprensa. Acho compreensível que publicações que vivem do
acompanhamento de artistas e
celebridades se interessem pela
foto.
2 - Mas, e jornais que se pretendem sérios, formadores de opinião, como a Folha e o "Estado",
como devem se comportar? Não é
uma resposta fácil. Primeiro, porque os próprios jornais reconhecem que estão chatos, pesados, e
precisam mudar. Em que direção? Segundo, porque precisam
ampliar e renovar seu leitorado e
têm de disputar o jovem com as
TVs, a internet e as revistas de entretenimento. Terceiro, porque
há uma pressão cada vez maior
por esse tipo de cobertura considerada leve e inconseqüente.
A propósito, há uma frase boa
no "Estado" de sexta. Ao comentar a situação dos jornais ingleses, que se mexem para não perder mercado, o editor Robert
Thomson, do "The Times", brincou: "O público para o jornalismo
sério está aumentando, mas o
jornalismo sério é seriamente caro".
Não tenho uma posição purista
a respeito da cobertura de famosos, escândalos e futilidades.
Acho que há espaço em jornais
como a Folha para este tipo de
notícia. Desde que seja uma história que valha a pena contar.
Não vi isso nas fotos de Chico.
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Marcelo Beraba é o ombudsman da Folha desde 5 de abril de 2004. O ombudsman tem mandato de um ano, renovável por mais dois. Não pode ser demitido durante o exercício da função e tem estabilidade por seis meses após deixá-la. Suas atribuições são criticar o jornal sob a perspectiva dos leitores, recebendo e verificando suas reclamações, e comentar, aos domingos, o noticiário dos meios de comunicação.
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