|
Texto Anterior | Índice
ENTREVISTA
"Também gosto de frescura"
Foi uma quarta-feira de reclamações contra a imprensa.
No Uruguai, segundo relato
da Folha na edição de quinta,
o presidente Luiz Inácio Lula
da Silva "se mostrou aborrecido" quando lhe perguntaram
sobre suas declarações a respeito de corrupção no governo
Fernando Henrique. "Um dia
vou perguntar para a imprensa
o que ela acha da repercussão
sobre o assunto", disse. Para o
"Estado de S.Paulo", o presidente respondeu "irritado"; para "O Globo", ele ironizou.
Na mesma quinta, os jornais
publicaram a reação do ministro Gilberto Gil (Cultura) às reportagens que o incluíam no
rol dos que reclamaram contra
os cortes no Orçamento para
este ano. Na Folha, o título de
quarta-feira foi "Gil, Rossetto e
Dutra reclamam do arrocho";
na quinta, "Gil diz que imprensa é manipuladora, mas volta a
criticar corte orçamentário".
Entrevistei o ministro na própria quinta. Ele fala da imprensa e faz um curto comentário sobre a publicação da foto
de Chico Buarque de Holanda.
Ombudsman - O senhor reclamou nesta semana que os jornais manipularam uma entrevista sua. O que ocorreu?
Gilberto Gil - O jornalista me
pergunta sobre os cortes do Orçamento: "O senhor está reclamando?". Eu digo: "Não, não estou reclamando". E sai uma reportagem com manchete dizendo que estou reclamando.
Eu não estava reclamando. Eu
estava dizendo como o corte
afeta o Minc e como todo processo orçamentário tem problemas.
Ombudsman - Mas as suas observações posteriores não continham um inconformismo com o
corte?
Gil - Tudo bem, mas botem as
minhas declarações. Se eu estou declarando que não estou
reclamando, vocês que julguem se faz sentido dizer na
manchete que estou reclamando. A primeira frase que eu disse aos repórteres foi: "Não estou
me queixando de nada". Há reclamações com relação ao Orçamento? Há. Vários ministros
estão nesta situação, mas eu
não sou um deles. Estou sendo
sendo realista apontando os
problemas causados pelos cortes.
Ombudsman - Como o sr. entende o trabalho da imprensa?
Gil - É difícil dizer. A imprensa, como qualquer outro segmento no mundo da informação, está submetida a várias lógicas. A lógica da política, do
mercado, dos interesses, dos
espaços ideológicos. Por mais
que ela queira um distanciamento absoluto, e é compreensível que ela queira, não é possível ter. Os jornais tem donos, as
redações tem pessoas, cidadãos, há subjetividades políticas, culturais.
Ombudsman - E ela é boa?
Gil - É boa. No geral. Não é
pior, com certeza, que o conjunto da imprensa mundial.
Ombudsman - Recentemente o
senhor se deixou fotografar pela
Folha sendo depilado. Alguns
leitores criticaram o jornal por
ter publicado a foto na primeira
página...
Gil - E alguns criticaram a
mim mesmo.
Ombudsman - Como o senhor
analisa esse caso?
Gil - Isso é da minha liberdade. Era do meu direito deixar
ou não. E se eu me deixei fotografar, era do direito de quem
fotografou publicar. E ponto.
Como Caetano, eu também
gosto de um pouco de frescura.
Posso ser ministro, mas também sou um cidadão, também
sou desse mundo da subjetividade. Eu formo a minha própria identidade. Estar sendo
depilado na festa do carnaval
também tinha um contexto.
Estava na festa.
Ombudsman - Alguns jornais
publicaram uma foto do Chico
Buarque na praia do Leblon beijando uma amiga.
Gil - Aí eu já acho que é voyeurismo e intromissão. Ainda que
suave. Mas é diferente de mim,
que fui solicitado por uma repórter a ser fotografado na minha intimidade e admiti. A intimidade você abre ou não abre.
É uma opção sua. No caso do
Chico, não. É uma outra história.
Texto Anterior: As fotos do Chico Índice
Marcelo Beraba é o ombudsman da Folha desde 5 de abril de 2004. O ombudsman tem mandato de um ano, renovável por mais dois. Não pode ser demitido durante o exercício da função e tem estabilidade por seis meses após deixá-la. Suas atribuições são criticar o jornal sob a perspectiva dos leitores, recebendo e verificando suas reclamações, e comentar, aos domingos, o noticiário dos meios de comunicação.
Cartas: al. Barão de Limeira 425, 8º andar, São Paulo, SP CEP 01202-900, a/c Marcelo Beraba/ombudsman,
ou pelo fax (011) 224-3895.
Endereço eletrônico: ombudsman@uol.com.br. |
Contatos telefônicos:
ligue (0800) 15-9000; se deixar recado na secretária eletrônica, informe telefone de contato no horário de atendimento, entre 14h e 18h, de segunda a sexta-feira. |
|