São Paulo, domingo, 06 de maio de 2001

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OMBUDSMAN

Sob a pressão "carlista"

BERNARDO AJZENBERG

O senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) não poupa palavra dura nem gesto autoritário. Um exemplo, em meio à crise da quebra do sigilo do painel do Senado, foi a declaração dada à Folha na sexta-feira (27) sobre a cobertura jornalística de seu depoimento do dia anterior ao Conselho de Ética: "A mídia é safada. Não traduziu a verdade. Jogou os senadores contra mim".
O soco verbal, publicado no sábado, não espanta. Surpreende, sim, a nada sutil sequência de edições do jornal com balanceamento pró-ACM a partir dali.
Pode haver desequilíbrios num jornal. Quando captados -ao menos se o jornal se quer imparcial-, sofrem correção. Mas, nesse caso, brotou algo inusual. Até parece que a Folha se deixou intimidar pela verve de ACM.
No domingo, baseada no Datafolha, a manchete foi "84% querem punição de senadores", sendo que, claramente, havia uma maioria (58% no caso de ACM e 56% no de José Roberto Arruda) favorável à cassação -algo mais forte do que simplesmente "punição". Sob a manchete, a foto de um ACM sorridente, de short e camiseta, em passeio no qual, diz a legenda, "foi aplaudido e recebeu apoio de eleitores".
Na segunda, manchete ruim para o maior rival do pefelista: "Caso contra Jader será reaberto". Embaixo: "ACM afirma ser vítima de linchamento da mídia", apontando para a única reportagem sobre o Caso Painel.
Nova foto na capa do jornal de terça. Quem? ACM, com Zélia Gattai e Gal Costa no "ato" de personalidades em seu favor (com direito a três fotos dentro).
Veio a quarta, com dois textos principais sobre o painel: "ACM teme que acareação vire "espetáculo'" e ""Ficaria muito triste", diz ACM, sobre cassação".
O coroamento da jornada "carlista" na Folha se deu na quinta-feira, dia da acareação, quando o senador ocupou o alto da seção "Tendências/Debates" com o artigo "Quero apenas a verdade". Nenhum espaço, ali, para Arruda ou para a ex-diretora do Prodasen Regina Borges.
Registre-se que ACM usou dessa mesma página nobre quatro vezes desde o dia 4 de março. Semana sim semana não.
Esse fato, ao lado de outros exemplos, de variados autores, pode levar leitores a se perguntarem se tal espaço de fato "obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo", como diz seu cabeçalho. Mas esse já é assunto para uma próxima coluna.


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