São Paulo, domingo, 06 de junho de 2004

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OMBUDSMAN

Jornais, no mundo e no Brasil

MARCELO BERABA

Duas notícias desta semana interessam às empresas jornalísticas e, por tabela, aos leitores que consomem informações, serviços e entretenimentos. A Folha deu mal as duas.
Em Istambul, na Turquia, a Associação Mundial de Jornais (WAN, em inglês) divulgou o balanço do desempenho da imprensa escrita em 2003, e o resultado não foi bom. Em Brasília, o presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) encaminhou à Comissão de Educação do Senado a proposta do banco para o socorro às empresas de comunicação endividadas. É menos do que queriam.

Circulação em queda
O levantamento feito pela WAN indica que a circulação mundial dos jornais caiu 0,12% em 2003. A queda só não foi maior porque cresceram muito as vendas em vários países asiáticos, como China e Índia (vide quadro). No resto do mundo, o cenário é de queda. Ou de estabilidade, o que é considerado um ótimo resultado.
No Brasil, os jornais deixaram de vender no ano passado uma média de 500 mil exemplares por dia. Em 2000, eles vendiam 7,88 milhões; em 2002, 6,97 milhões; e no ano passado, 6,47 milhões.
Numa série histórica longa, os jornais brasileiros ainda têm um desempenho positivo. Em 1990, por exemplo, vendiam cerca de 4,27 milhões por dia. A queda contínua começa em 2001. A perda nos últimos cinco anos é de 10,7% e afetou principalmente os grandes jornais. Os 15 maiores diários brasileiros tiveram uma queda de 18,1% entre 2001 e 2003.
O que explica tamanha retração? Mudanças de hábitos, preços, concorrência. Em vários países do mundo, o advento de jornais gratuitos, distribuídos nos transportes de massa, causou mais estragos do que a chegada de novas formas de difusão de notícias. Os jornais discutiram nos últimos anos como enfrentar a internet e acabaram sócios. Estão agora diante de um novo desafio, que é a onda "mobile", dos celulares e dos computadores sem fio.
No Brasil, a discussão sobre a queda de circulação dos jornais tende a ficar restrita à qualidade. Mas é evidente que outros fatores também têm pesado, como a queda de renda da população e o enfraquecimento financeiro das empresas, praticamente impedidas de fazer novos investimentos.
As empresas jornalísticas tradicionais terão de fazer algo mais do que esperar a retomada do crescimento. Como os jornais de outros países, precisam pensar em novos conteúdos, novos padrões de qualidade, novas estratégias para manter leitores e atrair os jovens.

O socorro
E, já que toquei na crise, vamos ao assunto mais delicado. O presidente do BNDES, Carlos Lessa, encaminhou para o Senado a proposta do banco para socorrer as empresas de comunicação endividadas. O programa, que não depende da aprovação do Senado para ser tocado pelo governo, ainda provocará muita polêmica.
A proposta encaminhada para a avaliação dos senadores é bem diferente da apresentada pelas empresas de comunicação quando procuraram o banco, meses atrás. Elas queriam uma linha especial de crédito de R$ 5 bilhões para refinanciar as dívidas do setor (calculadas em R$ 10 bilhões), juros de 1,5% e um prazo de dez anos para pagar.
O que o BNDES está oferecendo são R$ 2,5 bilhões, juros de 5% (mais as taxas dos agentes financeiros) e um prazo de cinco anos para a liquidação da dívida.
O BNDES acredita ainda que será possível obter das empresas, tradicionalmente fechadas e predominantemente familiares, mudanças de gestão para torná-las mais transparentes e fiscalizáveis.
É certo que as pressões no Senado e sobre o BNDES serão fortes e diversas. Entre as próprias empresas há as que acham que o governo não deveria emprestar para o setor pagar dívidas. E há as que acham que o governo está oferecendo pouco. A novidade é que, desta vez, tudo parece correr às claras. O que é um bom sintoma.


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Marcelo Beraba é o ombudsman da Folha desde 5 de abril de 2004. O ombudsman tem mandato de um ano, renovável por mais dois. Não pode ser demitido durante o exercício da função e tem estabilidade por seis meses após deixá-la. Suas atribuições são criticar o jornal sob a perspectiva dos leitores, recebendo e verificando suas reclamações, e comentar, aos domingos, o noticiário dos meios de comunicação.
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