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OMBUDSMAN
Jornais, no mundo e no Brasil
MARCELO BERABA
Duas notícias desta semana
interessam às empresas jornalísticas e, por tabela, aos leitores que consomem informações,
serviços e entretenimentos. A Folha deu mal as duas.
Em Istambul, na Turquia, a Associação Mundial de Jornais
(WAN, em inglês) divulgou o balanço do desempenho da imprensa escrita em 2003, e o resultado
não foi bom. Em Brasília, o presidente do BNDES (Banco Nacional
de Desenvolvimento Econômico e
Social) encaminhou à Comissão
de Educação do Senado a proposta do banco para o socorro às empresas de comunicação endividadas. É menos do que queriam.
Circulação em queda
O levantamento feito pela WAN
indica que a circulação mundial
dos jornais caiu 0,12% em 2003. A
queda só não foi maior porque
cresceram muito as vendas em
vários países asiáticos, como China e Índia (vide quadro). No resto
do mundo, o cenário é de queda.
Ou de estabilidade, o que é considerado um ótimo resultado.
No Brasil, os jornais deixaram
de vender no ano passado uma
média de 500 mil exemplares por
dia. Em 2000, eles vendiam 7,88
milhões; em 2002, 6,97 milhões; e
no ano passado, 6,47 milhões.
Numa série histórica longa, os
jornais brasileiros ainda têm um
desempenho positivo. Em 1990,
por exemplo, vendiam cerca de
4,27 milhões por dia. A queda
contínua começa em 2001. A perda nos últimos cinco anos é de
10,7% e afetou principalmente os
grandes jornais. Os 15 maiores
diários brasileiros tiveram uma
queda de 18,1% entre 2001 e 2003.
O que explica tamanha retração? Mudanças de hábitos, preços, concorrência. Em vários países do mundo, o advento de jornais gratuitos, distribuídos nos
transportes de massa, causou
mais estragos do que a chegada
de novas formas de difusão de notícias. Os jornais discutiram nos
últimos anos como enfrentar a internet e acabaram sócios. Estão
agora diante de um novo desafio,
que é a onda "mobile", dos celulares e dos computadores sem fio.
No Brasil, a discussão sobre a
queda de circulação dos jornais
tende a ficar restrita à qualidade.
Mas é evidente que outros fatores
também têm pesado, como a queda de renda da população e o enfraquecimento financeiro das empresas, praticamente impedidas
de fazer novos investimentos.
As empresas jornalísticas tradicionais terão de fazer algo mais
do que esperar a retomada do
crescimento. Como os jornais de
outros países, precisam pensar em
novos conteúdos, novos padrões
de qualidade, novas estratégias
para manter leitores e atrair os jovens.
O socorro
E, já que toquei na crise, vamos
ao assunto mais delicado. O presidente do BNDES, Carlos Lessa,
encaminhou para o Senado a
proposta do banco para socorrer
as empresas de comunicação endividadas. O programa, que não
depende da aprovação do Senado
para ser tocado pelo governo, ainda provocará muita polêmica.
A proposta encaminhada para
a avaliação dos senadores é bem
diferente da apresentada pelas
empresas de comunicação quando procuraram o banco, meses
atrás. Elas queriam uma linha especial de crédito de R$ 5 bilhões
para refinanciar as dívidas do setor (calculadas em R$ 10 bilhões),
juros de 1,5% e um prazo de dez
anos para pagar.
O que o BNDES está oferecendo
são R$ 2,5 bilhões, juros de 5%
(mais as taxas dos agentes financeiros) e um prazo de cinco anos
para a liquidação da dívida.
O BNDES acredita ainda que
será possível obter das empresas,
tradicionalmente fechadas e predominantemente familiares, mudanças de gestão para torná-las
mais transparentes e fiscalizáveis.
É certo que as pressões no Senado e sobre o BNDES serão fortes e
diversas. Entre as próprias empresas há as que acham que o governo não deveria emprestar para o
setor pagar dívidas. E há as que
acham que o governo está oferecendo pouco. A novidade é que,
desta vez, tudo parece correr às
claras. O que é um bom sintoma.
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Marcelo Beraba é o ombudsman da Folha desde 5 de abril de 2004. O ombudsman tem mandato de um ano, renovável por mais dois. Não pode ser demitido durante o exercício da função e tem estabilidade por seis meses após deixá-la. Suas atribuições são criticar o jornal sob a perspectiva dos leitores, recebendo e verificando suas reclamações, e comentar, aos domingos, o noticiário dos meios de comunicação.
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