São Paulo, domingo, 06 de junho de 2004

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ENTREVISTA

"A veiculação de notícias às vezes me esmaga"

Carlos Lessa, presidente do BNDES, está envolvido diretamente na formulação do programa de financiamento para as empresas de comunicação. Ele é economista, tem 67 anos, foi reitor da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), define-se como desenvolvimentista e se declara "leitor compulsivo de livros e jornais".

Ombudsman - Por que o BNDES tem de emprestar dinheiro para as empresas de comunicação financiarem suas dívidas? Não significa favorecer um setor que tem forte poder de pressão?
Carlos Lessa -
O BNDES não tem nenhuma tradição de atuar no segmento. O que nos sensibiliza é o fato de o segmento ser integrado por mais de 2.000 empresas, se somarmos jornais, revistas, radiodifusão e televisão. E o volume de emprego é uma variável não perfeitamente estimada, mas há quem fale em 500 mil empregos diretos e indiretos. O interessante é que emprega desde mão-de-obra não-qualificada até a mais qualificada possível, passando pelo lado tecnológico e pelo lado criativo. Esse setor tem uma outra característica muito importante. Ele é o difusor dos conteúdos que afirmam a identidade de uma nação. Então não podemos deixar esse setor se atrofiar, se desestruturar e eventualmente perder a sua identidade.
A prática da democracia exige que esse setor exista até mesmo com as suas incongruências, as suas divergências, as suas variedades.
O ponto importante é que nós, do BNDES, não queremos ser o balcão disso. Se esse programa vier a ser aprovado, ele será operado por agentes do sistema financeiro, pelos bancos. Quem vai analisar o risco do empréstimo e decidir emprestar ou não serão os bancos.

Ombudsman - Esse tipo de socorro não reforça o modelo que tende para a concentração e o oligopólio?
Lessa -
Creio que não. Uma linha como essa é uma linha que deve ligar desde a microscópica empresa até a maior do setor. Não há nenhuma orientação preferencial para nenhum tipo de empresa. Um ponto importante é o seguinte: nós financiamos empresas, não pessoas. E a cultura do setor historicamente é muito associada a pessoas. Tanto que, para atender as regras bancárias de um BNDES, as empresas terão de tomar uma série de providências, como auditoria regular e governança corporativa.

Ombudsman - Significa dizer que essas empresas hoje não têm transparência?
Lessa -
Significa dizer que, para o BNDES apoiar, tem de ter uma transparência, que é o normal nas operações dos bancos. O programa pode ser pedagógico na gestão das empresas

Ombudsman - O senhor lê jornais?
Lessa -
Leio. O meu problema é que ultimamente não consigo tempo nem para respirar.

Ombudsman - Gosta do que lê?
Lessa -
Eu sou um leitor compulsivo de livros e jornais.

Ombudsman - O senhor tem prazer de ler os jornais?
Lessa -
Eu tenho prazer de ler muitos cronistas e alguns editorialistas. A veiculação de notícias, eu confesso a você, às vezes ela me esmaga por ser tão superabundante e tratada com tanta ligeireza que em certos momentos ela me parece um pouco excessiva.


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