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OMBUDSMAN
Marcelo Beraba @ - ombudsman@uol.com.br
Promessas e promessas
Logo saberemos se o compromisso da mídia com valores como isenção, imparcialidade e
apartidarismo é para valer ou é só marketing
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HÁ UMA BOA disputa no
ar. A TV Globo publicou, há dias, um anúncio de página dupla em que
promete "isenção, transparência e compromisso com a
verdade". O título da peça publicitária reproduz propositalmente um clichê eleitoral, "Eu
prometo". A TV Bandeirantes
respondeu com outro anúncio: "Eles prometem. A Band
cumpre".
A Globo propagou que vai
"fazer a maior cobertura jornalística que uma eleição já teve no Brasil". Segundo o anúncio, a rede vai mobilizar mais
de 4.500 profissionais em todo
o país para "revelar a notícia
em primeira mão, estimular o
debate e aproximar o Brasil da
sua casa com reportagens especiais". A Band relacionou
vários fatos políticos ocorridos a partir de 1979 em que
considera que fez melhor cobertura que "eles" [referência
à Globo não explicitada no
anúncio] e, no final, foi bem
sucinta: promete fazer "a cobertura mais precisa e imparcial da TV brasileira".
É um erro imaginar que as
duas emissoras, separadas por
um abismo de espectadores e
faturamento, estejam, com estes anúncios, apenas disputando audiência. O principal
objetivo é a disputa pelo bem
mais precioso do jornalismo, a
credibilidade. Para isso, as
duas foram buscar palavras-chave como isenção, transparência, verdade, precisão, imparcialidade. Aí está o grande
problema das empresas jornalísticas, e não apenas no Brasil.
Não adianta volume de informação, não adianta exército
de profissionais, não adianta
liderança comercial sem credibilidade. E não há oportunidade melhor para tentar fixar
a imagem de credibilidade do
que durante as campanhas
eleitorais ou ao longo das coberturas de crises políticas.
Normas de conduta
Não são só as duas emissoras que aproveitam o momento político e eleitoral para fixar
uma imagem positiva através
de anúncios institucionais ou
comerciais. "O Globo" publicou, faz um mês, um anúncio
para divulgar o seu "Estatuto
das Eleições 2006", com normas internas que devem ser
seguidas por seus profissionais para prestar informação
"isenta e transparente". A íntegra do estatuto já tinha sido
editada em forma de notícia
uma semana antes.
A Folha está vendendo assinaturas com peças que fazem
referências diretas à política:
"Um jornal precisa ter muita
credibilidade em um país onde acontecem tantas coisas difíceis de acreditar" e "Eles
tentam varrer a sujeira pra debaixo do tapete, e a gente coloca em cima do seu capacho".
A TV Globo também criou,
como "O Globo", normas internas que devem ser seguidas
por seus funcionários, e há
dois capítulos voltados para os
profissionais da Central Globo de Jornalismo. São orientações que pretendem garantir "isenção" e "equilíbrio editorial" durante a cobertura.
Até a Radiobrás, a empresa
pública federal de radiodifusão, lançou um "Protocolo de
compromisso com o cidadão"
e um "Código de conduta" para o período eleitoral.
A boa cobertura
Os anúncios publicitários
com promessas de coberturas
isentas e a divulgação de normas de comportamento para
as Redações são um bom sinal,
independentemente dos objetivos comerciais que têm por
trás. Logo saberemos se o
compromisso público com valores como isenção, imparcialidade, apartidarismo, pluralismo é para valer ou é apenas
marketing. E, tão importante,
logo veremos se as megacoberturas anunciadas têm qualidade e senso crítico, se cumprirão de fato com a responsabilidade de bem informar e de
ajudar a formar cidadãos com
opinião própria.
O que temos assistido neste
início de campanha eleitoral
-principalmente nos telejornais, mas não apenas neles-
são coberturas superficiais,
dependentes das agendas dos
candidatos e sem contextualização. Há uma sociedade inquieta que ainda não apareceu
nas telas das TVs nem nas páginas dos jornais.
É provável que, com o desenrolar da campanha, os meios
se debrucem sobre a história
dos candidatos, avaliem as
suas passagens pela administração pública, analisem os
fracassos e os sucessos das políticas públicas implementadas nos últimos anos, aprofundem as discussões sobre os
principais problemas nacionais e confrontem os programas e promessas dos candidatos à Presidência da República
e aos governos estaduais.
É o que se espera, assim como se espera um olhar inovador para uma cobertura sempre negligenciada, a do Legislativo (Senado, Câmara dos
Deputados e Assembléias estaduais). A boa cobertura não
será avaliada pelo número de
quilômetros rodados, pela
quantidade de jornalistas envolvidos ou pelo volume de papel impresso. Assim espero.
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Marcelo Beraba é o ombudsman da Folha desde 5 de abril de 2004. O ombudsman tem mandato de um ano, renovável por mais dois. Não pode ser demitido durante o exercício da função e tem estabilidade por seis meses após deixá-la. Suas atribuições são criticar o jornal sob a perspectiva dos leitores, recebendo e verificando suas reclamações, e comentar, aos domingos, o noticiário dos meios de comunicação.
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