São Paulo, domingo, 06 de outubro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Transparência tardia

Se você é daqueles leitores que costumam dar atenção à seção "Erramos", da página A3 do jornal, deve ter notado, especialmente, quatro casos ao longo da semana passada:
1) "Diferentemente do publicado no texto "Falta de fiscal pode dificultar aplicação da lei", a Prefeitura de São Paulo aprovou em concurso 770 novos agentes vistores, mas ainda não os efetivou" (28/9);
2) "O aeroporto de La Guardia fica em Nova York, e não em Newark, como informou legenda de foto publicada na capa do caderno..." (29/9);
3) "Diferentemente do que informou o texto "Secretaria de Cultura ocupará cine Olido", a avenida São João não faz esquina com a praça Dom José Gaspar..." (29/9);
4) "O Inca (Instituto Nacional do Câncer) estima que 2,5 milhões de brasileiros que têm entre 5 e 19 anos fumem, e não que haja este número de fumantes entre crianças de 5 a 10 anos, como foi publicado no texto "Fumantes vão receber tratamento do SUS". A estimativa de mortes no mundo relacionadas ao fumo é de 4 milhões por ano, segundo o Inca, e não de 10 milhões até 2030 como informou a reportagem" (4/10).
O que esses "Erramos" têm em comum?
É que, apesar de terem sido apontados por leitores ou pela crítica interna do ombudsman no dia em que saíram no jornal e de serem evidentes ou passíveis de checagem imediata, os erros a que se referem só foram corrigidos pelo menos duas semanas depois de publicados.
Caso 1: 14 dias; caso 2: 20 dias; caso 4: 34 dias.
O caso 3 chega a ser pitoresco: foram 44 dias para o jornal reconhecer que inexiste no centro de São Paulo uma esquina São João/ Dom José Gaspar.
Não há dúvida de que a simples edição da seção "Erramos" expressa um comportamento nobre do jornal, um compromisso de transparência.
Quantos veículos de comunicação -e todos, como se sabe, cometem erros- mantêm seção diária semelhante?
Essa ousadia, porém, não dá à Folha o "direito" de esquecer ou postergar correções inexplicavelmente, ainda mais aqueles casos de erros óbvios. Pelo contrário.
Ao fazê-lo, como nesses exemplos, o jornal subestima a memória do leitor e agride a grandeza ética que a própria existência da seção "Erramos" revela.


Texto Anterior: Goela abaixo
Próximo Texto: Questão de interpretação
Índice


Bernardo Ajzenberg é o ombudsman da Folha. O ombudsman tem mandato de um ano, renovável por mais dois. Ele não pode ser demitido durante o exercício do cargo e tem estabilidade por seis meses após o exercício da função. Suas atribuições são criticar o jornal sob a perspectiva do leitor -recebendo e verificando as reclamações que ele encaminha à Redação- e comentar, aos domingos, o noticiário dos meios de comunicação.
Cartas: al. Barão de Limeira 425, 8º andar, São Paulo, SP CEP 01202-900, a/c Bernardo Ajzenberg/ombudsman, ou pelo fax (011) 224-3895.
Endereço eletrônico: ombudsman@uol.com.br.
Contatos telefônicos: ligue (0800) 15-9000; se deixar recado na secretária eletrônica, informe telefone de contato no horário de atendimento, entre 14h e 18h, de segunda a sexta-feira.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.