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Transparência tardia
Se você é daqueles leitores que
costumam dar atenção à seção
"Erramos", da página A3 do jornal, deve ter notado, especialmente, quatro casos ao longo da
semana passada:
1) "Diferentemente do publicado no texto "Falta de fiscal pode
dificultar aplicação da lei", a
Prefeitura de São Paulo aprovou
em concurso 770 novos agentes
vistores, mas ainda não os efetivou" (28/9);
2) "O aeroporto de La Guardia
fica em Nova York, e não em Newark, como informou legenda de
foto publicada na capa do caderno..." (29/9);
3) "Diferentemente do que informou o texto "Secretaria de
Cultura ocupará cine Olido", a
avenida São João não faz esquina com a praça Dom José Gaspar..." (29/9);
4) "O Inca (Instituto Nacional
do Câncer) estima que 2,5 milhões de brasileiros que têm entre 5 e 19 anos fumem, e não que
haja este número de fumantes
entre crianças de 5 a 10 anos, como foi publicado no texto "Fumantes vão receber tratamento
do SUS". A estimativa de mortes
no mundo relacionadas ao fumo
é de 4 milhões por ano, segundo
o Inca, e não de 10 milhões até
2030 como informou a reportagem" (4/10).
O que esses "Erramos" têm em
comum?
É que, apesar de terem sido
apontados por leitores ou pela
crítica interna do ombudsman
no dia em que saíram no jornal e
de serem evidentes ou passíveis
de checagem imediata, os erros a
que se referem só foram corrigidos pelo menos duas semanas
depois de publicados.
Caso 1: 14 dias; caso 2: 20 dias;
caso 4: 34 dias.
O caso 3 chega a ser pitoresco:
foram 44 dias para o jornal reconhecer que inexiste no centro de
São Paulo uma esquina São
João/ Dom José Gaspar.
Não há dúvida de que a simples edição da seção "Erramos"
expressa um comportamento
nobre do jornal, um compromisso de transparência.
Quantos veículos de comunicação -e todos, como se sabe,
cometem erros- mantêm seção
diária semelhante?
Essa ousadia, porém, não dá à
Folha o "direito" de esquecer ou
postergar correções inexplicavelmente, ainda mais aqueles casos
de erros óbvios. Pelo contrário.
Ao fazê-lo, como nesses exemplos, o jornal subestima a memória do leitor e agride a grandeza
ética que a própria existência da
seção "Erramos" revela.
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Bernardo Ajzenberg é o ombudsman da Folha. O ombudsman tem mandato
de um ano, renovável por mais dois. Ele não pode ser demitido durante o exercício do cargo e tem estabilidade
por seis meses após o exercício da função. Suas atribuições são criticar o jornal sob a perspectiva do leitor
-recebendo e verificando as reclamações que ele encaminha à Redação- e comentar, aos domingos, o noticiário
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