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OMBUDSMAN
Multidões
BERNARDO AJZENBERG
Reportagem publicada em
Brasil na última terça-feira
sobre manifestação realizada na
véspera, na avenida Paulista, em
protesto contra o fechamento
dos bingos informava que, "segundo a Polícia Militar", 12 mil
pessoas participaram do ato.
Algumas páginas adiante, em
Cotidiano, um outro texto noticiava que o dia anterior havia
registrado o maior índice de congestionamento deste ano em São
Paulo e que um dos motivos para
isso fora justamente aquela manifestação, à qual compareceram, "segundo a PM", pelo menos 6.000 pessoas.
Doze mil e 6.000 mil, ambos os
dados, tão díspares, obtidos da
mesma fonte (a PM)... Como fica
o leitor? E o sentido do jornal como registro histórico confiável
dos acontecimentos?
A avaliação de multidões não é
um problema novo para o jornalismo, ao contrário. Mas o valor
simbólico e político que ela adquire ultrapassa cada vez mais, e
muito, os seus limites.
Não por acaso, repórteres costumam recorrer à PM, uma fonte
supostamente neutra e mais experiente, para oferecer um contrapeso às estimativas, geralmente infladas, dos organizadores das manifestações (nesse caso, a Força Sindical falou em 30
mil presentes).
O "Manual da Redação" da
Folha, por exemplo, tem um verbete para o tema, nessa direção.
Após afirmar que, em "evento
importante", o jornal deve usar
"método científico de medição
do local, com assessoria do Datafolha", ele recomenda: "em evento menos importante, ouvir versão do organizador, do adversário (se houver), de autoridade e
de observador isento; se possível,
o jornalista deve contar ou estimar o número de participantes".
Até aí, tudo bem. Ocorre que,
para além de eventuais distorções deliberadas, não há mágica
nesses cálculos arriscados.
A própria PM depende da experiência de seus quadros em tal
tipo de avaliação e, de modo empírico, faz apenas estimativas,
baseadas na área ocupada e em
pressupostos como, por exemplo,
o de que, numa aglomeração
muito "apertada", são cinco as
pessoas por m2. Ainda assim, há
divergências.
No caso em questão, a fonte
usada na reportagem de Brasil,
conforme apurei, foi o 11º Batalhão da PM, encarregado de fazer a segurança do protesto na
avenida Paulista. Já a informação de Cotidiano proveio do Comando Geral da PM.
Ora, sendo às vezes inevitável
que, no "calor dos acontecimentos", diferentes editorias consultem diferentes fontes, como deveria o jornal proceder para evitar a confusão no produto final?
Uma saída seria adotar uma
regra estabelecendo que não
basta escrever "segundo a PM",
de modo genérico; cabe precisar
de qual parte da corporação o
dado surgiu.
Em segundo lugar, sempre que
possível, expor as divergências
(nessa terça, o "Estado de S.Paulo" aproximou-se de um modelo
adequado: registrou que policiais-militares presentes ao ato
tinham a mesma estimativa da
Força Sindical -30 mil- mas
que o Comando Geral contabilizou 6.000 pessoas).
A quantidade de manifestantes, seja qual for o tema mobilizador (político, econômico ou
comportamental), tem valor
imediato e simbolismo histórico
relevantes demais para que a
mídia a trate de modo nebuloso.
Se é impossível a obtenção de
resultados inquestionáveis, que
ao menos se exponham as fontes
de informação com mais precisão e mais transparência.
Aquela vocação do jornal, de
ser um registro histórico dos
acontecimentos, só se reforçaria,
e menos confusão haveria na cabeça do leitor.
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de um ano, renovável por mais dois. Ele não pode ser demitido durante o exercício do cargo e tem estabilidade
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